quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Freguês



Este poderia ser um escrito sobre as pessoas que colaboraram para que eu passasse a pensar dessa maneira. Mas é só um escrito sobre mim.
Sobre meu orgulho, vaidade, preguiça e imobilismo. 

05:16



A cada dez vezes, onze eu passei espectando. Assistindo de longe, admirando e imaginando o quão intocável era aquela personalidade. Passei meses sentada na cadeira principal do camarote. Eu fui sua principal e mais alienada plateia. Fui perfeita no que fiz, assistia todo o show sem questionar nada, e mais, por vezes acreditei na magia que escorria daquela atuação. Demorei a perceber o quanto aquele show nada mais era do que simples retórica. Retórica sofista. Arte de argumentar. Dom de convencer. Que raramente era usado para o bem. 

Transbordava simplicidade na mesma proporção em que era guiado pelo próprio ego e na verdade, refém dele. Passava a maior parte dos dias flutuando, levitando sobre um surrealismo barato que só vai servir como navalha rasgando a epiderme da alma. Fantasiando e vendendo uma possibilidade fácil de alcançar a vitória. Fácil não exprime uma grama da insignificância dos obstáculos. Abstraia todos os empecilhos reais em nome de uma fé cega. Fé que o direcionava ao abismo, sem que ele percebesse. 
Tão assustador e bizarro quanto uma gravidez psicológica, ele realmente acreditada ser Deus – e por um momento, foi mesmo.


Fiquei exausta, cansada de me esforçar para ser no mínimo positiva. Olhar as coisas pelo lado bom... Esforço que não me dá garantia de recompensa. O pique de uma jovem idealista de quinze anos, me foi arrancado pela realidade. As situações pelas quais eu vivenciei, moldaram e determinaram a minha maneira de interpretar o mundo. E essa maneira não é positivista. Nem fodendo mano!  Não adianta fazer curso intensivo de desconstrução ideológica, porque uma: estou satisfeita em não esperar a improvável e bacaca possibilidade da vida me surpreender e duas:  eu simplesmente não quero ser uma pessoa legal. Nunca me atrai pela normalidade das pessoas felizes ou ao menos positivas. 


Me nego a participar dessa peça como figurante ou pior, mera espectadora. Meu pessimismo existe sim, mas ele não me cegou a ponto d’eu esquecer o meu valor. Eu sou uma mulher sincera e este é o meu maior defeito. Principalmente quando não sei medir nem esperar o “momento certo” de dizer as coisas que penso e acho no meu mar de suposições sobre a vida. Não quero crescer hoje. Não quero ser uma pessoa melhor. Não quero pessoas por perto. 


      


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