sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mais amor, menos teoria.

Mais sensibilidade, menos falácia. 



Diga-me qual metamorfose não é dolorosa, e eu lhe direi qual convicção é vantajosa. 


Eruditos¹ de todos os países, uni-vos para refletir aqui comigo, sobre o quão vocês são patéticos. 
Este é um breve papo sobre humanidade. A única área do conhecimento humano, que você está distante de dominar. 


Imaginem um ignorante. Um “ignorante tradicional”.  Não é difícil pra você, afinal você vive assumindo e sublinhando a sua ignorância por aí, numa tentativa frustrada de mostrar à todos que já leu Sócrates. Mas, imaginem um ignorante que se quer tem noção da própria estupidez. Aquele que nunca se pois a refletir sobre nada, nem crise existencial o coitado não teve. Então, é desse tipo de pessoa que estamos falando, não sobre você. 

Eu vou contar obviedades. SQN
Do dia em que nasceu até hoje, com 20 anos, ela se dedicou ao conjunto de regras pré-estabelecidas, que lhe foi apresentado. Apresentado não, imposto. Normas de nossa sociedade patriarcal, conservadora, machista e reacionária. Mulher pregada na cruz sangrenta da moral cristã, ignorante e sonhadora. Os laços emocionais que ela criou em TODAS as áreas de sua vida, estão diretamente ligados à este conjunto de regras, ou talvez unicamente ligados a isso. 
 E todos aqui concordam que, caso um fio deste laço, se quer seja afrouxado, a consequência é devastadora. Um exemplo péssimo: Ela era do tipo que sonhava com os relacionamentos perfeitos pintados na tela da placa da igreja do bairro, pelo pastor que fingia ser pintor. Aquelas que sonham com vestido branco e a musiquinha famosa de uma cerimonia de casamento. Com mãos dadas na rua, e bodas de ouro, prata, qualquer porra. Que sonha com reciprocidade sentimental. E acredita nisso mais que tudo. Que quer ir no geriatra com seu marido, que é inclusive, seu primeiro namorado. Que sonha sim, com aquela outra porra de “até que a morte os separe”. 
Mas de repente, ela se torna aquela mulher que tem horror a compromisso, aversão a romantismo, pavor a fidelidade e nem sabe o que é reciprocidade sentimental. Aquela mulher libertina, decidida, independente, com personalidade e realista. Que quer mesmo um homem por dia da semana, sexo com qualquer pessoa ou coisa, até arder sua buceta. Baladas, festas, liberdade. Aquela que abandonou a moral e foi ser militante do movimento feminista. 

Qual é o problema? Nenhum. Nisso não há problema. O problema está nos motivos pelos quais essa “mulher” se tornou “Mulher”. Ouso supor - só supor - que existe uma pressão gigantesca para o extremismo. Em casa tem que ser santa, na rua tem que ser puta. O extremo de qualquer lado, fere. Não acho que seja direito de uma mulher feminista esfregar na cara da menina machista, o quanto ela é uma imbecil por não transar com 437 cavalos numa noite. Isso é agressão. De forma geral, ouso dizer que o caminho escolhido pelas eruditas para propagar o conhecimento e a libertação, não seja nada convidativo. 
Quando se dedica uma vida à um discurso, não é outro discurso que o derrubará. Pois a vida, ultrapassa as barreiras de um discurso. Vida é vivida. Então não se trata de abandonar apenas um discurso, o que pros eruditos e eruditas é muito fácil, mas trata-se de abandonar um pedaço de vida, vivida. 
Então não venha me falar disso. De sociologia, de ciência, de verbete, de discurso e de blá blá. Espero que os cientistas saibam respeitar a dor. Sei que espero errado, mas foda-se. Cientistas também são pessoas. 

O que trago aqui, é uma reflexão sobre os valores. Valores universais que transcendem toda e qualquer ciência. Caso as análises sociológicas, filosóficas, histórias ou políticas, diminuíssem ou aliviassem a dor do ou da oprimida em qualquer esfera, eu as aceitaria como solução plausível. Mas não. Hoje não. Agora não. 
Só exijo a liberdade de sentir, essa dor tão prazerosa que mantém viva. 

Agora, eu volto pra teoria Socrática, justamente pra “falar sua língua” e bater no peito pra lhe dizer que a única convicção vantajosa, é a ignorância. Isso mesmo man, você não manja de todos os paranauê, então, dá uma segurada. 

Beijos. 

¹Que tem profundos e vastos conhecimentos. Homem muito sabedor. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A insuficiência do sistema público de ensino e seu reflexo na academia.



Por muito tempo as beiradas dessa grande cidade foram - e ainda são - saqueadas diariamente pela ganância burguesa. Assim, temos nossas vocações amputadas. O jovem de 15 anos que poderia ser um advogado, é transformado em traficante de drogas. Aquele que poderia ser um Juiz é transformado num assaltante de bancos, outro que poderia ser médico é reduzido a programas de prostituição, aqueles que poderiam ser empresários ou empresários bem sucedidos, geradores de oportunidades para seus pares, são transformados em serventes de pedreiro e/ou domésticas.


E a pergunta que não quer calar é: por quê? 




De todos os estudantes de graduação da Universidade de São Paulo, apenas 1,3% são negros, 8,3% são pardos e 4% são provenientes da rede de ensino público. Esses dados são de 2006, se não me engano, mas aposto minha vida, que ainda hoje a situação permanece igual, senão pior, se atualizarmos os dados. Mas, por que será?
Nós, aqui da periferia, do outro lado do muro, passamos - quando passamos - onze anos de nossas vidas nas escolas, mas não aprendendo algo que poderá nos ser útil futuramente, ao contrário, somos trancafiados num depósito de pobre e preto, que nomeiam de escola. Os melhores alunos destes depósitos são, no máximo, analfabetos funcionais. Não sabemos ler um texto, que dirá escrever um. Mas, por que será?
É sabido que muitos de nós não temos acesso aos direitos básicos para sobrevivência, como por exemplo, água potável, saneamento etc., porém, o que mais me intriga é que nós pagamos por esses serviços. Não possível que alguns ainda acreditem no conto de que pobre não paga imposto! Imposto que por lei garanta: educação, segurança, moradia e transporte de qualidade. A diferença, caríssimo, é que o dinheiro dos nossos impostos são convertidos em melhorias no armamento da Polícia Militar que utiliza este mesmo armamento para nos exterminar. Mas, por que será?
A grande maioria dos formandos do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública, não tem nem de longe a capacidade para passar na entrevista de emprego de qualquer empresa, até mesmo de telemarketing, dirá nos vestibulares de qualquer universidade pública. É importante salientar que essa incapacidade, não é natural do indivíduo. Somos mais do que capazes, o que nos falta é apenas oportunidade igualitária como cidadãos, mas até isso nos é negado. Como querem que nós disputemos qualquer coisa, com um jovem de classe média alta que passou a vida inteira estudando num colégio trilíngue, enquanto nós nos dirigimos diariamente às escolas por um único motivo, a merenda.
Diante do exposto, não é exagero dizer que ensino superior no Brasil é pra quem tem “paitrocinio”. É pra elite. São dados estatísticos que revelam isso, não minha van perspectiva de via, apesar dela também. O sonho de ingressar numa universidade, pode até ser comum às duas classes, mas só é possível escolher de forma livre, para uma.
Ainda que "a nova classe média" - graças à mercantilização do ensino pelas “Uni alguma coisa” a fora, aos programas de financiamentos do governo Lula, ás cotas - comece marcar presença no ensino superior, ainda temos um longo caminho para percorrer. O fato de hoje, um jovem, como eu, conseguir custear a mensalidade de uma graduação, não é sinônimo de inclusão educacional. Ainda existem os "filtros acadêmicos". O que me admira é que mesmo sendo o Brasil a sexta economia mundial, a juventude pobre ainda não tem direito de escolher sua própria profissão. Mas por que será?
 Um jovem pobre não pode querer ser médico, historiador, filósofo ou artista, por exemplo. Servente de pedreiro, empregada doméstica, porteiro, segurança, passadeira e todas as “carreiras” subalternas são possibilidades mais positivas para esse jovem “escolarizado”. Para a juventude pobre existem os cursos universitários que são "proibidos" e existem os cursos "indicados". Você já viu algum pobre fazendo Curadorismo e Crítica na PUC? Ou Artes plásticas UNIFESP? Música na USP? Não. Pobre faz administração, logística ou marketing na Uninove, Unicid, UniSantana etc.
Isso é inclusão educacional? Se for, sinceramente, perdemos o significado e o sentido do que de fato é educação. 
 Nossa juventude trabalha até 10 horas por dia pra ganhar um salário mínimo, quando ganha, e se quiser estudar para ganhar um salário mínimo e meio, tem que custear sozinho seus estudos. Não fomos capacitados para ingressar em universidades públicas. E isso é um desrespeito com os direitos civis, sociais e políticos que estão claramente garantidos na Constituição. Enquanto um jovem de classe média alta for preparado para comandar os cargos de comando das empresas e da política e outro jovem, da mesma idade, da classe média baixa, for adestrado para empacotar as compras, ou entregar pizzas, permaneceremos estacionados no terceiro mundo.  Sonho? Não, nada disso, você não esta entendendo. Pobre não pode sonhar. Isso fica pra uma próxima oportunidade - tipo reencarnação, quem sabe?
 Também não posso deixar de destacar que há pouco tempo, essa realidade caminha vagarosamente para mudanças positivas. Essa falsa "inclusão educacional tardia” do menos favorecido está causando grande rebuliço nas estruturas elitizadas das universidades por aí a fora. Acontece devagarzinho, mas não diminuiu, ainda, o espanto da playboyzada ao dividir a sala de aula com um favelado.  
 Enfim, voltando ao problema principal, devo informar que apesar de ser pobre eu não me rendi ao protocolo social. Teimei em não adiar meus sonhos e estou estudando Sociologia e Política na FESPSP. Devo também informar que eu trabalho 10 horas por dia para custear meus estudos.
 Agora, vou relatar minhas experiências adquiridas em meros sete meses frequentando as aulas na FESP, e considerando justamente, que como cientista social, historiador, educador etc., ser humano, você seja capaz de compreender este fenômeno social. Confio em você!
 Tem gente que estuda Sociologia pra contrariar o pai, outros estudam porque esta na moda se preocupar com os problemas sociais, há aqueles que estudam porque é bonito ser intelectual e ainda tem os que acreditam e alimentam aquele velho sonho de mudar o mundo – o que muitos dirão que é utopia.  A diversidade socioeconômica encontrada numa sala de aula da FESP hoje é linda. E eu sou um exemplo vivo disso. A instituição comemorou recentemente 80 anos, e ouso dizer que ela jamais teve tanto favelado matriculado. (quando digo tanto, me refiro sem medo a uns 50 alunos de todos os três cursos oferecidos).
O que eu não previ ao ir contra tudo e todos e estudar Ciências Sociais, foi atestar dia após dia o quão esta instituição está totalmente despreparada para receber o tão estudado objeto, o proletariado, o menos favorecido. Sim, pasme-se, justamente o objeto de estudo!
 Quando entrei na sala de aula de uma universidade, foi inevitável e imprevisível estranhar aquele lugar. Foi diferente de tudo que eu sabia e imaginava a respeito. Primeiro, porque tive que me esforçar para compreender e me acostumar com a linguagem usada pelos professores e por alguns alunos. E segundo, pelo tempo que demorei a perceber, a carga de leitura definitivamente era colossal. Imaginei que eu teria que ler apenas o que os professores solicitassem - o que em minha opinião já era muita coisa -, mas não.
Nos primeiros meses fui submetida a um tratamento de choque de realidade. Um método eficiente - até certo ponto - utilizado pela instituição, e por “alunos mestres” , deduzo eu que para sublinhar a abissal diferença entre o ensino médio e a universidade, e também para atestar a qualidade de ensino daqui. Método que lhe faz perceber que todos os anos gastos de sua vida desde a primeira série até o terceiro ano, se revelam inúteis. Método cruel, que lhe joga na cara a todo o momento o quão você é ignorante e morrerá sendo, mesmo que se esforce ao máximo para deixar de ser. O método consiste no espanto do professor ao descobrir que nem todos os alunos da classe leram os autores clássicos e aparentemente "obrigatórios" para estudantes de sociologia – e consequentemente para a minha surpresa ao descobrir que eu já tinha que ter lido todos. Consiste, portanto, num ciclo de surpresas, os professores me estranhando e eu estranhando eles. Bizarro!
  De certa forma essa estrutura funciona, pois desperta nos alunos o interesse em ser menos inútil. Em contrapartida, tem o efeito contrário em outros, que logo na primeira semana abandonam o curso e pacificamente aceitam tua irrevogável condição de boçal. 
Depois de quase perder a sanidade mental por conta deste tratamento de choque, eu comecei a observar o meio. Até então estava ocupada demais pensando numa saída para minha ignorância. Ao observar as nuances desse espaço, percebi que, o rapaz (“aluno-mestre”) que é pós doutor em algum assunto, entende tudo sobre ele. Este mesmo rapaz que quase descobriu o sentido da vida com tanto conhecimento acumulado durante anos não consegue, por exemplo, se comunicar com outro indivíduo de nível intelectual inferior. Vai lá, tenta, faz o teste pra ver se ele consegue? A expressão chega atrofiar.  Em suas palavras, peça para um professor da ESP dialogar com seu objeto de estudo que certamente não possui a mesma construção e acumulação de signos ideológicos. Ele não consegue .
 Minha primeira sensação era de que para conseguir saudar - com um mero “bom dia!” - um ser supremo desses, eu teria que ter bibliografia básica. E eu queria muito estar exagerando em minhas colocações, mas, infelizmente, não estou. Descobri que para ingressar no primeiro semestre o pré-requisito era o mesmo, bibliografia básica. E sinceramente comecei a me sentir envergonhada por não ter.
Cada palavra dita em aula parecia ser pronunciada unicamente com o propósito de esbanjar um imenso e superior vocabulário e conhecimento. Até as conversas na mesa do bar eram mediadas por referências á autores e livros que nunca ouvi sussurros longínquos sobre. Descobri que eu precisaria de um milagre para correr atrás do tempo perdido e me informar um pouco.
- Como vocês nunca leram Platão? Que espécie de Cientistas Sociais serão vocês? Bradou o professor de uma disciplina dentro da sala.
Eu deveria ter respondido a pergunta. Pois, quem a fez, apesar de colecionar diplomas justamente sobre a minha espécie, não sabia nada sobre ela.
 Outra sensação que tive é que a última preocupação que o indivíduo tem ao abrir a boca é transmitir conhecimento. Para os semideuses, dividir o saber é o mesmo que por um revolver na testa do jovem e puxar o gatilho; o mesmo que escrever o nome por extenso na linha pontilhada de uma certidão de transferência de patrimônio. 
Algumas aulas podem ser tranquilamente comparadas a uma palestra, onde todos possuem total domínio sobre o que está sendo dito e não necessitam de introdução ou tempo para processar as informações.
 Ok. Já sei que não estou no jardim de infância e que a universidade exige todo um blá blá blá de conhecimento e um vocabulário extenso e uma norma culta etc.
Na FESPSP os profissionais são dignos de respeito e admiração. Isso é inegável. Mas será que flexibilizar a didática para que alguém sem embasamento consiga acompanhar o raciocínio e o conteúdo - ainda que nebulosa - a cerca do que está sendo dito, seria pedir muito, muito mesmo? É... no caso de Ciências Sociais, eu diria que sim.
 Enfim, deve ser mesmo muito impactante e complicado para uma universidade que passou 80 anos formando elites, aceitar a matrícula de um favelado, ou pior, de ALGUNS favelados – no plural. E os professores? Deve ser realmente difícil conduzir uma aula hoje em dia.  Nunca na vida precisaram flexibilizar a didática para que alunos despreparados consigam compreender, afinal não existiam alunos despreparados!!
 Mas a questão é que de pouco em pouco a periferia está marcando presença e conquistando seu espaço na  academia. E a burguesia pira com tudo isso. Rs. 
Caso eu estivesse matriculada em qualquer outro curso de qualquer outra Uni da vida, e me deparasse com estes probleminhas de percursos, seria teoricamente aceitável. O difícil é estudar sociologia e não ser compreendida nesta esfera. É exatamente neste instante que dou a luz a um filhote de cruz-credo de tanta indignação. É SOCIOLOGIA Cara...!
Um professor de uma universidade de sociologia, ter a pachorra de dizer à classe, que dará falta pra todo aluno que se atrasar pra aula do infeliz, é praticamente ser vencedor do prêmio Nobel de hipocrisia mesclada com ironia. Olha para o tratamento! Não tenho vontade de argumentar delicadamente, mas é preciso, senão perde-se o direito de fala, o que praticamente não se tem. "Querido doutor X, não me atrasei para sua aula, por estar aguardando o shofer, o taxi, a vitamina de leite com pêra, a chegada do meu plastaytion 15, ou a burocracia do aeroporto internacional. Pelo contrário, querido Dr., me atrasei por estar aguardando na quinta fila a vaga no motor da lotação, a porcaria do metrô da linha vermelha ou ainda a enchente lá da vila baixar para não molhar a vestimenta, melhor, indumentária."
 Deparar-se com a própria ignorância é fascinante, pois funciona como combustível para vida, porém, quando nem a vontade de aprender é válida, a ignorância torna-se favorável a desistência da mesma.
 Escrevo por uma educação libertadora, emancipadora, como li recentemente, que pare de adestrar os pobres para servirem as mesas e responderem sim Senhor e não Senhor, e acredito que se essa meta não for à de uma instituição como a FESPSP, não será a meta de nenhuma outra.
 Preciso de ajuda...