quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pensando em ti

Ontem fiquei tão bem, e toda vez que isso acontece eu fico com uma ressaca de felicidade, me bate uma culpa imensa por estar "bem". 
Daí que no dia seguinte me lembro o quão eu não estou bem. Não que eu esteja mau, mas bem, certamente não estou. Caso estivesse, não me culparia por realmente estar.
O bom é que o “estar” é efêmero. 
A cada crise que supero, vejo o quanto eu cresci. Mas, quero isso pra você também, afinal estou te amando ainda, e penso em você todo dia. Ainda bem que, de você eu só vou me lembrar enquanto eu respirar, seu cheiro em mim durará minha existência, ainda bem.

Estou aqui olhando pra minha mania de querer “salvar as pessoas” e rindo dela. Quem sou eu? Odiava essa redação que pediam desde a 3° série. Essa e aquelas sobre “Como foram as férias?”. Como se auto-definir na terceira série? Impossível antes, mais impossível agora. Quando você descobre que é impossível se auto-descobrir - ou quando você começa acreditar nisso - vem a dor. P R E P A R A. (Sem Anitta). 

Dai fico eu e minha dor aqui, uma olhando pra cara da outra, com a mesma expressão patética de quando vc leva um tropeço na rua, ou quando você dá sinal pro busão, e ele não para... 

típico... 

PS: Eu te amo. (pra fazer alusão aquele filme do caralho, e justificar as lágrimas... ¬¬') 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Imprevisível

Um exercício antropológico! 

Sábado à noite, um volume gigantesco de leitura acumulada, minha etnografia pendente e o cansaço latente.
Chega um determinado momento, em que eu leio mecanicamente, li umas três páginas de O Cortiço e nenhuma palavra ficou gravada na mente, quem dirá algum sentido. No quarto tudo trancado, sem luz, sem ar, algumas roupas do avesso jogadas no chão, sapatos por todo lado. De repente, alguém bate na porta três vezes com força, me assustei e estremeci de raiva. Era minha mãe, dizendo que ia sair, mas deixaria a chave comigo. Dei de ombros e ela se foi. 

Num instante lembrei que precisava comer, apesar de não sentir fome, então gritei minha mãe - antes que ela saísse - pra irmos ao mercado juntas. Levantei do jeito que estava: cabelo bagunçado, saia longa quase cobrindo os pés, apenas um par do brinco de madeira e uma blusa com a estampa do rosto do Bob Marley. 
Ela trancou o bendito portão e fomos ao mercado. Chegando lá comprei algumas besteiras e ela seguiu seu destino. Voltando pra casa, em passos melancólicos, lembrei-me de que estava sem a chave, pois, como saímos juntas as duas esqueceram deste detalhe.

Eis que lá vou eu atrás dela, cheia de sacolas e para ajudar, incomunicável, pois saí de casa sem meu celular. Não sabia onde ela tinha ido, mas suspeitava. Então caminhei em direção à primeira música que ouvi. Era uma espécie de forró, mas como meu parâmetro para forró é Luiz Gonzaga, não pude classificar aquela canção como forró - simplesmente. Era outra coisa. Me aproximei e percebi que era um show ao vivo - talvez isso explicasse a qualidade. Olhei de longe, da direita pra esquerda, procurando com os olhos minha chave, e minha mãe... 


O show era na rua, o palco improvisado debaixo de uma árvore, na calçada, um bar em frente ao “palco arranjado” fornecia as bebidas. As mesinhas com cadeiras, eram distribuídas no meio da rua estreita, dificultando a circulação dos carros, mas as cadeiras eram pouco úteis, uma vez que, a grande maioria das pessoas estavam dançando – aquele ritmo que eu não sei o nome. 
De repente um coro gritando meu nome: - Larissa!!! Fui descoberta, que lástima. 
Ergui meus olhos em direção ao grito, e identifiquei minha mãe, uma amiga e minha prima. Acenaram felizes, me chamando pra festa, cheias de entusiasmo. Eu estremeci, mas dessa vez não foi de raiva, era só o medo do desconhecido mesmo. 

Concordei comigo em pensamento, que precisaria passar por todas aquelas pessoas, caso quisesse minha chave pra voltar pra casa, comer, ler e dormir. Então fui. Pedindo licença entre os casais, atrapalhando todo o andamento da coisa, e atraindo olhares intrigados. Ouvi uma voz distante, em meio ao barulho, dizer: “O que essa menina esta fazendo aqui?”
Apressei o passo e encontrei minha mãe. Antes mesmo que eu pudesse pedir a chave, já fui apresentada ao grupo e convidada a sentar e beber. Um grupo de jovens deslocados me chamaram a atenção, e como sou curiosa decidi ficar – mesmo com aquela roupa – para ver o que estava acontecendo ali. Tinha cerveja de graça, a oportunidade dada para a pesquisa etnográfica e a quebra de rotina, era isso!

Minha primeira pergunta foi direcionada ao único homem que não estava dançando o tal ritmo, pois o fato dele estar parado me facilitou a afinidade. Então perguntei o nome da banda – formada por uma vocalista e um tecladista – e o que eles estavam tocando. Sem balbuciar, meu colega de cadeira respondeu que era arrocha. Enchi o copo sem mais delongas, e resolvi observar. É importante dizer que o público era em sua maioria adulto, mas tinha criança dançando também, alguns adolescentes. 

Por um instante achei que eu estava invisível no grupo, pois, todos tinham ocupações melhores do que me notar. Mas, eu estava enganada, quando me pus a observar fiquei de certa maneria constrangida, pois tinha muita gente me olhando, ou muito mais do que eu esperava. Alguns com indiferença, outras com curiosidade e simpatia, alguns caras com malícia.
Comecei a procurar possíveis explicações para a quantidade de olhares, então, tomei consciência de que minha roupa era incompatível com o ambiente. Minha prima largou seu par e veio me dizer que minha vestimenta estava denunciando, que eu não “era” dali. Minha amiga foi mais além e disse que aquela saia nos pés, praticamente agredia os nativos. Eu ri. 

Fiquei sentada bebendo, comendo minhas besteiras, quando alguém me chamou pra dançar, estendeu a mão e perguntou meu nome. “Eu não sei dançar” Respondi brava! Tanta gente ali, tinha que ser logo eu? A resposta clássica e automática do “eu te ensino”, me entediou. Então, pedi desculpas e fui no banheiro ajeitar meu cabelo. Na fila duas mulheres se aproximaram e perguntaram se eu curtia reggae, disse que sim. Quando fui pegar uma cerveja no bar, o dono foi bastante caloroso, perguntou se eu queria que a banda tocasse um reggae pra eu dançar. Respondi na lata, que não. 
Já eram 23:00hs quando voltei pra mesa, continuei bebendo. Entre uma música e outra, alguém sempre vinha se apresentar. Não falavam nada além de “Você curte reggae né?”. Estranhei tudo aquilo. Todos pareciam torcer para que eu dançasse, então, concordei. Dancei uma musica inteira do tal arrocha, mesmo sem saber. Meu parceiro era bom. Devia ter uns 35 anos, branco, cabelo baixo, não me recordo o nome. Dizia toda hora pra eu voltar mais vezes, perguntava se eu tinha gostado. Mesmo sem sinceridade, respondi sim pra tudo. Voltei pro meu lugar. 

De repente, a vocalista fala meu nome no microfone. Considerando que existem muitas Larissas, ignorei. Até que ela disse: “Você mesmo, a regueira!” Dei um pulo hilário da cadeira, derrubando o litro de cerveja no chão e o copo no meu colo. Como essa mulher descobriu meu nome? Na hora veio minha mãe na mente. Isso só podia ser arte dela. Quando levantei todos estavam rindo. Foi bem constrangedor. Torci a saia molhada e subi o degrau do palco que era a calçada - talvez a cerveja tenha me dado coragem. Ela me abraçou sem cerimônias e disse que tocaria um reggae pra me fazer levantar da cadeira. Agradeci envergonhada e voltei pro meu lugar, dessa vez em pé. Edson Gomes era o escolhido. Comecei a dançar para não fazer desfeita com tamanha receptividade, mas, depois continuei dançando por livre e espontânea vontade. 

O arrocha voltou a imperar, e eu já não conseguia fica sentada. A energia me contagiou de tal maneira que já estava inserida no grupo. Quando lembrei o que tinha ido fazer lá, gritei: Mãe, me dê a chave, vou pra casa. Cheguei em casa às 3 da manhã, sem sacolas, sem fome e com um sorriso abestalhado, me perguntando sozinha: O que eu fui fazer lá? A resposta vinha sem esforço: “Minha etnografia!”.