quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

autocuidado

Este escrito é um lembrete a mim. Uma nota mental registrada externamente. Este escrito é sobre autocuidado.


Tome a coragem de cuidar de si mesma!

Olhe pra você com carinho, afeto, respeito e compreensão. Escute seu corpo, leia sua respiração, traduza seus passos. Você precisa de si.


Nessas de criança preta não ter infância - seja pela precocidade das responsas, pela ignorância da família, os clássicos desdobramentos do racismo - nosso direito à fantasia nos é tirado.
F a n t a s i a r.
Criar com imaginação.
Dar vida à coisas sem existência material.

Quando não se tem direito a fantasia, a crueza da realidade se apresenta com violenta sutileza. Puxa a cadeira e educa nosso olhar. Sedimenta o terreno que mantém nossos pés no chão, (nunca voar!) Eu cresci num solo barroso porém fui incapaz de florir meus passos, maquiar meus olhos ou levar a leveza num sorriso.
Eu cresci com a praticidade de lidar com as coisas como elas são. Prático e doloroso. Porém, a constância faz a gente se acostumar.
Eu cresci olhando nos olhos da concretude da dificuldade, sem firula. Quando eu digo que cresci, quero dizer que me tornei adulta assim: Realista. Imune às fantasias, aos devaneios, ao absurdo.

A consequência disso é que eu cresci com a mania de querer abraçar o mundo, mas sem a lembrança de que meus braços são curto. Cuido de todos. Quem cuida de mim? 


E o exercício de hoje com este escrito, é olhar para minha infância e tentar encontrar o que nela, faz eu me punir tanto? Eu não me dar o direito ao erro? Me cobrar um malabarismo emocional - como se fosse possível dar conta de tudo. O escrito de hoje é registro de fluxo mental, ora elaborado ora não.

Por que você não se acha merecedora de cuidado?
De um tempo seu, pra fazer o que quiser?
Por que o erro te apavora tanto?

O racismo pseudocientífico se dedicou por muito tempo, na construção de um imaginário que desumaniza corpos pretos; o iguala aos animais, a selvageria, a agressividade, a animalidade. Alguns de nós sabemos que o racismo científico é apenas uma manobra do colonialismo europeu para justificar seu sistema de dominação.  Mas MUITOS de nós, não sabemos disso. Neste sentido, acho importante dizer que nós descendemos de um povo que foi escravizado e somos filhos de uma nação colonizada.

Como esse colonialismo nos atravessa, e o quão desse colonialismo nós reproduzimos? Entre nós e com nós mesmas?




O bagulho é bem doido e nessas de achar que autocuidado é luxo, já me estrepei bastante. Porque não dá pra oferecer o que não se tem. Quem cuida do outro enquanto esta adoecido? Antes de ajudar as pessoas, é preciso que a gente se ajude. Estando bem, nós conseguimos a efetividade desse prover.

Entender que você pode errar; aceitar que te ajudem, não se cobrar tanto, estar segura de si, etc... é se ajudar. é direcionar o olhar cuidadoso pra si. É amor próprio, descoberta, desacerto, desafio, alívio, abertura de caminhos.

Autocuidado é ação política e direta. Antirracista. Decolonial. É resistência. É emancipação.

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Dito isso, gostaria de compartilhar uma vitória bonita e singela que tive hj.
Eu determinei o dia de quarta-feira, como o dia do autocuidado. 


botei água pra ferver e fui tomar banho. Separei minha fruta preferida, um incenso babado, uma música que me faz meditar (mesmo se for funk), fiz um chá e peguei um livro. Fechei meu quarto e mentalizei que este momento é meu, de mim, pra mim, por mim. é cura. é rito. é sagrado. 

Com o ambiente já energizado, vesti uma saia longa e preparei uma vaporização uterina com camomila. Meditei pelo tempo que aguentei. Tudo no meu tempo, quem manda no meu tempo às quartas, sou eu! Usei meus óleos essenciais, ascendi minha vela aromatizada de citronela pra modi os pernilongo rs
Escolhi vaporizar meu útero, num movimento de resgate, cura ancestral, e reconexão com o feminino. (Oi, podemos sim e eu vou adorar problematizar isso tudo, mas seguimos). Nosso útero carrega memórias ancestrais e feridas também. Então decidi cuidar de vários aspectos da minha existência. Fora que eu amo ervas e magias :) 



Aproveitei a água já com camomila, taquei sal grosso e fiz um escalda pés. A ideia é um spa mesmo. Seu, pra você!!! Enquanto o incenso acabava eu fui massageando meus pés. Escolhi minha cor de esmalte preferida e fui pintando as unhas. Tô viciada no novo álbum da Bia Doxum e indico essa trilha sonora para o dia de quarta. À T Ú N W A me deixa molinha. 

às quartas nós praticamos o autocuidado. E você?