quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

2000 e Dz7

é uma construção de associar as vivência, compreender as experiências, crescer. é libertador!

Quando você percebe ele já deu um jeito de construir um muro ao seu redor. 
De modo que sua própria identidade some. Ele muda seu nome pra mulher dele.
Onde quer que vá, será reconhecida dessa maneira. A sensação de posse sobre você,
deixa de ser só uma brisa dele, para ser sua realidade. O exterior legitima isso.
As pessoas que vocês dois conhecem, tratam você como propriedade do cara, 
ninguém sabe seu nome, nem nada sobre você, só sabem que vc é “mulher do mano”, 
e agem como se só isso bastasse. Você se torna alguém inacessível em todos os aspectos
por ser identificada e classificada como “mulher do mano”.
E quando seu relacionamento acaba? 
Você vai continuar sendo a “mulher do maluco” por um bom tempo.
E quando finalmente a galera reconhecer que você – enquanto mercadoria mulher - deixou de “pertencer à ele”, 
ou seja, terminou a porra do namoro, ainda assim, será reconhecida socialmente como “ex”. Carrega um estigma, uma marca pique aquelas de pele de boi. 
E até você voltar a existir na sociedade como VOCÊ MESMA, demoooooooora, é mó corre.

O macho nunca perde a identidade num relacionamento. Ele é alpha, imune às correntes do pertencimento. Imune aos julgamentos sociais. Ele transita pelo joguinho da afetividade com tranquilidade e liberdade. Come todas e é respeitado nas banca por isso, mete um namoro e é respeitado nas banca por isso. Fica solteiro e é respeitado nas banca por isso. Ele não perde o próprio nome pra ser reconhecido como “o homem da mina”. Chega ser engraçado de tão impossível. E isso não acontece por questões de personalidade, subjetividade, empoderamento, pq vc foi fraca, pq te falta consciência sobre oq é machismo. Nem toda feminista é obrigada a assumir a postura combativa, lacrativa, raxativa. 
Isso tudo acontece simplesmente porque você é mulher, e ele: homem.



É por isso que sou feliz por ser quem sou, meu nome é Larissa Cordeiro, eu faço meus baguio e pertenço a mim. E se for pra entrar num relacionamento pra ficar na sombra de homem, prefiro seguir sendo minha própria luz.

Alumeiaaaaaaaa fulô :)

Neguinha Metida

Eu quero falar sobre essa coisa de “nega metida”. 

Mas antes, eu quero abandonar a necessidade de justificar meus escritos. Eu ando com muita preguiça e quem acompanha meu blog até me cobra texto novo. A fita é como pegar fôlego pra falar, e soltar o ar desistindo pela consciência de que nada muda. Ninguém se importa. E suas neurose te pertencem. 
Talvez o sentimento de preguiça seja resultado da esperança pífia. Todos temos uma dose de esperança pra dar sentido ao que fazemos, mas eu a odeio. Por motivos óbvios.

Mas então, voltando ao título, é importante dizer: Eu não direciono meu texto aos que chamam as preta de metida, escrevo pras minhas. 

Ninguém espera muito de uma neguinha dita ‘feia’, pobre. 
Operadora de Telemarketing? Vendedora de loja de surf? na minha mão a passagem é 3? chegou delicia, chegou qualidade? São as profissões mais bem sucedidas.

Ninguém espera que uma preta reaja à um ataque, que pela naturalização e recorrência, foi mecanizado, quero dizer, passa batido. As pessoas estão acostumadas a falarem o que querem à uma faveladinha e não temerem reação. 
Elas contam com uma personalidade passiva. De empregada doméstica que chama até as cria da madame de patroa. Que anda olhando pro chão. Que não sabe receber elogio. Que chora escondida no banheiro pq queria o olho verde, nariz fino e cabelo loro-liso. 

O povo não tá preparado pra preta que bate de frente, que tem convicção e orgulho em ser quem é. Que ama seu nariz, seu cabelo duro, sua boca e bunda grande. Que olha no olho, fala no mesmo tom de voz, faz faculdade, discute política com propriedade. Eles se surpreendem! Pq ninguém espera muito de uma neguinha de favela. É tipo “não contavam com minha astúcia!” 

   observando o cinza da mentira que tenta descolorir meus sonhos, ainda bem que nóis é uma aquarela.

Isso acontece pq a sociedade e sua estrutura patriarcal e racista, cria lugares pré destinados à nós. 
O que isso quer dizer? Não esta no plano de quem tem poder e dinheiro, ver mulheres negras ou pobres tendo poder e dinheiro. Por isso 70% da população carcerária é preta. Por isso 93% das empregadas domésticas dos jardins são negras. Porque esses são os “lugares” que a sociedade nos destina.

Quando você, mina preta, dita “feia”, faveladinha, quebra essa lógica e começa a estar em outros lugares, rejeitando a migalha por ser convicta sobre sua própria grandeza, o mundo se incomoda. Os bico sujo se ataca. Talvez nem seus amigos saibam lidar com isso muito bem. E é compreensível. Não é aceitável, mas dá pra entender.

Quando eu colei na banca toda feliz pra contar que eu tinha entrado numa universidade pública,
pra fazer um curso que não era adm, logística ou marketing,
que o estado me pagaria pra eu estudar e não o contrário:
eu vi todo tipo de reação. De abraços à “vou ali mijar, to sem saco pra arrogância”.
E algumas coisas estão para além do recalque. Não duvido que exista gente recalcada sim! Mas o papo aqui é de uma Cientista Social, então vamo fala sério?

A incomodação repousa na ignorância. Em engolir sem questionamento a falácia do sistema que nos quer morrendo como tadinhas. Em achar que o Estado não tem obrigação de custear estudos de "vagabundas". Em não compreender a história do Brasil como solo pra fertilizar qualquer discussão social. Em não esperar muito de uma neguinha, dita “feia”, pé de barro. 

Daí você vai progredindo na sua caminhada - nada surreal, tudo dentro do que é merecido e na verdade com muita luta – e ressurgem das cinzas quentes da escravidão os inquisitores no cio:

- Você se acha!
- Neguinha metida!
- Fodona da favela!
- Arrogante!
- Prepotente
- Grossa
Bla bla bla bla bla

A fita é que quando você transita entre os mundos, troca ideia, desenrola, tá ligeira aos teste, se movimenta, fala o que pensa, se impõe, rejeita o lugar que a ti tentam impor, domina as gíria da sua quebrada feat. o palavriado difícil da faculdade, você se torna ironicamente, a fodona da favela!
o vulgo em si não me incomodou pq faz jus a quem sou, até pq sou monstra mesmo e não dá pra ser menos :)  mas, o caráter racista da intenção dessa afirmação, que tem que ser combatido. Com a sagacidade que não nos falta. Com toda emoção de exaltar as vivência. Com toda capacidade de escrever artigo científico!

As falas que ironizam, satirizam e reduzem quem somos e onde estamos, por causa de onde viemos, precisam ser combatidas porque – de novo – são racistas.
Ninguém diz “alá, branca metida”. Pq a branca pode até ser pobre, mas a ela é dado o direito de estar onde preta não deveria. Simplesmente por ser branca. E se caso ela for mesmo metida, ao exporem isso jamais sua cor vai vir acompanhando a crítica. Pq ser branca não é um defeito. 

Quantas vezes dentro da sala de aula, justamente por ser – não por escolha minha – a fodona da favela, eu não me senti constrangida em levantar a mão pra fazer uma pergunta, por não saber formular 1 (uma) UMA frase, sem minhas gíria?
Quantas vezes no banheiro do Shopping Morumbi, onde eu trabalhei durante um ano tendo que apresentar crachá todo dia na portaria por ser uma “neguinha metida”, eu me senti constrangida pq minhas roupas, minha estética, meu pé sujo de barro denunciavam pras patrícia-branca-lora-farmet, de onde eu vinha?

Quando a gente pega umas visão e entende que ser quem somos APESAR de viver o que vivemos e ter vindo de onde viemos, é uma benção, um milagre, uma glória! A gente passa a não mais permitir que nossa história nos envergonhe, pelo contrário, nos orgulha.

Num mundo que faz você se envergonhar das suas raízes e origens, se afirmar como Preta, Pobre, Favelada, é um ato de resistência!
Ser preta resistente as estruturas racistas da sociedade, que a todo tempo com violenta sutileza te direciona via revista, TV, discurso, propaganda, a ser o tudo, menos consciente do quão é poderosa, linda, de espírito forte, guerreira, é mó corre, mó desafio. E nessa caminhada nega, esteja ciente de que: A FÚRIA DE QUEM TE QUER NO CHÃO, SE BASEIA NO DESESPERO DE TE VER DE PÉ, CUMPRINDO SUA MISSÃO!

E (r)existir não é opção pra fi de pobre que cria os irmão, enquanto a mãe limpa privada de patrão pra garantir o pão. 
(r)existir não é estilo de vida, busca por curtida ou premiação de corrida. 

Resistir é coisa pra Nega Metida!

Salve as pretinha marrenta, metida, de nariz empinado, e bunda grande pra abastecer o recalque! Salve o poder da mulher negra!

kaya babyloca