quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pensando em ti

Ontem fiquei tão bem, e toda vez que isso acontece eu fico com uma ressaca de felicidade, me bate uma culpa imensa por estar "bem". 
Daí que no dia seguinte me lembro o quão eu não estou bem. Não que eu esteja mau, mas bem, certamente não estou. Caso estivesse, não me culparia por realmente estar.
O bom é que o “estar” é efêmero. 
A cada crise que supero, vejo o quanto eu cresci. Mas, quero isso pra você também, afinal estou te amando ainda, e penso em você todo dia. Ainda bem que, de você eu só vou me lembrar enquanto eu respirar, seu cheiro em mim durará minha existência, ainda bem.

Estou aqui olhando pra minha mania de querer “salvar as pessoas” e rindo dela. Quem sou eu? Odiava essa redação que pediam desde a 3° série. Essa e aquelas sobre “Como foram as férias?”. Como se auto-definir na terceira série? Impossível antes, mais impossível agora. Quando você descobre que é impossível se auto-descobrir - ou quando você começa acreditar nisso - vem a dor. P R E P A R A. (Sem Anitta). 

Dai fico eu e minha dor aqui, uma olhando pra cara da outra, com a mesma expressão patética de quando vc leva um tropeço na rua, ou quando você dá sinal pro busão, e ele não para... 

típico... 

PS: Eu te amo. (pra fazer alusão aquele filme do caralho, e justificar as lágrimas... ¬¬') 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Imprevisível

Um exercício antropológico! 

Sábado à noite, um volume gigantesco de leitura acumulada, minha etnografia pendente e o cansaço latente.
Chega um determinado momento, em que eu leio mecanicamente, li umas três páginas de O Cortiço e nenhuma palavra ficou gravada na mente, quem dirá algum sentido. No quarto tudo trancado, sem luz, sem ar, algumas roupas do avesso jogadas no chão, sapatos por todo lado. De repente, alguém bate na porta três vezes com força, me assustei e estremeci de raiva. Era minha mãe, dizendo que ia sair, mas deixaria a chave comigo. Dei de ombros e ela se foi. 

Num instante lembrei que precisava comer, apesar de não sentir fome, então gritei minha mãe - antes que ela saísse - pra irmos ao mercado juntas. Levantei do jeito que estava: cabelo bagunçado, saia longa quase cobrindo os pés, apenas um par do brinco de madeira e uma blusa com a estampa do rosto do Bob Marley. 
Ela trancou o bendito portão e fomos ao mercado. Chegando lá comprei algumas besteiras e ela seguiu seu destino. Voltando pra casa, em passos melancólicos, lembrei-me de que estava sem a chave, pois, como saímos juntas as duas esqueceram deste detalhe.

Eis que lá vou eu atrás dela, cheia de sacolas e para ajudar, incomunicável, pois saí de casa sem meu celular. Não sabia onde ela tinha ido, mas suspeitava. Então caminhei em direção à primeira música que ouvi. Era uma espécie de forró, mas como meu parâmetro para forró é Luiz Gonzaga, não pude classificar aquela canção como forró - simplesmente. Era outra coisa. Me aproximei e percebi que era um show ao vivo - talvez isso explicasse a qualidade. Olhei de longe, da direita pra esquerda, procurando com os olhos minha chave, e minha mãe... 


O show era na rua, o palco improvisado debaixo de uma árvore, na calçada, um bar em frente ao “palco arranjado” fornecia as bebidas. As mesinhas com cadeiras, eram distribuídas no meio da rua estreita, dificultando a circulação dos carros, mas as cadeiras eram pouco úteis, uma vez que, a grande maioria das pessoas estavam dançando – aquele ritmo que eu não sei o nome. 
De repente um coro gritando meu nome: - Larissa!!! Fui descoberta, que lástima. 
Ergui meus olhos em direção ao grito, e identifiquei minha mãe, uma amiga e minha prima. Acenaram felizes, me chamando pra festa, cheias de entusiasmo. Eu estremeci, mas dessa vez não foi de raiva, era só o medo do desconhecido mesmo. 

Concordei comigo em pensamento, que precisaria passar por todas aquelas pessoas, caso quisesse minha chave pra voltar pra casa, comer, ler e dormir. Então fui. Pedindo licença entre os casais, atrapalhando todo o andamento da coisa, e atraindo olhares intrigados. Ouvi uma voz distante, em meio ao barulho, dizer: “O que essa menina esta fazendo aqui?”
Apressei o passo e encontrei minha mãe. Antes mesmo que eu pudesse pedir a chave, já fui apresentada ao grupo e convidada a sentar e beber. Um grupo de jovens deslocados me chamaram a atenção, e como sou curiosa decidi ficar – mesmo com aquela roupa – para ver o que estava acontecendo ali. Tinha cerveja de graça, a oportunidade dada para a pesquisa etnográfica e a quebra de rotina, era isso!

Minha primeira pergunta foi direcionada ao único homem que não estava dançando o tal ritmo, pois o fato dele estar parado me facilitou a afinidade. Então perguntei o nome da banda – formada por uma vocalista e um tecladista – e o que eles estavam tocando. Sem balbuciar, meu colega de cadeira respondeu que era arrocha. Enchi o copo sem mais delongas, e resolvi observar. É importante dizer que o público era em sua maioria adulto, mas tinha criança dançando também, alguns adolescentes. 

Por um instante achei que eu estava invisível no grupo, pois, todos tinham ocupações melhores do que me notar. Mas, eu estava enganada, quando me pus a observar fiquei de certa maneria constrangida, pois tinha muita gente me olhando, ou muito mais do que eu esperava. Alguns com indiferença, outras com curiosidade e simpatia, alguns caras com malícia.
Comecei a procurar possíveis explicações para a quantidade de olhares, então, tomei consciência de que minha roupa era incompatível com o ambiente. Minha prima largou seu par e veio me dizer que minha vestimenta estava denunciando, que eu não “era” dali. Minha amiga foi mais além e disse que aquela saia nos pés, praticamente agredia os nativos. Eu ri. 

Fiquei sentada bebendo, comendo minhas besteiras, quando alguém me chamou pra dançar, estendeu a mão e perguntou meu nome. “Eu não sei dançar” Respondi brava! Tanta gente ali, tinha que ser logo eu? A resposta clássica e automática do “eu te ensino”, me entediou. Então, pedi desculpas e fui no banheiro ajeitar meu cabelo. Na fila duas mulheres se aproximaram e perguntaram se eu curtia reggae, disse que sim. Quando fui pegar uma cerveja no bar, o dono foi bastante caloroso, perguntou se eu queria que a banda tocasse um reggae pra eu dançar. Respondi na lata, que não. 
Já eram 23:00hs quando voltei pra mesa, continuei bebendo. Entre uma música e outra, alguém sempre vinha se apresentar. Não falavam nada além de “Você curte reggae né?”. Estranhei tudo aquilo. Todos pareciam torcer para que eu dançasse, então, concordei. Dancei uma musica inteira do tal arrocha, mesmo sem saber. Meu parceiro era bom. Devia ter uns 35 anos, branco, cabelo baixo, não me recordo o nome. Dizia toda hora pra eu voltar mais vezes, perguntava se eu tinha gostado. Mesmo sem sinceridade, respondi sim pra tudo. Voltei pro meu lugar. 

De repente, a vocalista fala meu nome no microfone. Considerando que existem muitas Larissas, ignorei. Até que ela disse: “Você mesmo, a regueira!” Dei um pulo hilário da cadeira, derrubando o litro de cerveja no chão e o copo no meu colo. Como essa mulher descobriu meu nome? Na hora veio minha mãe na mente. Isso só podia ser arte dela. Quando levantei todos estavam rindo. Foi bem constrangedor. Torci a saia molhada e subi o degrau do palco que era a calçada - talvez a cerveja tenha me dado coragem. Ela me abraçou sem cerimônias e disse que tocaria um reggae pra me fazer levantar da cadeira. Agradeci envergonhada e voltei pro meu lugar, dessa vez em pé. Edson Gomes era o escolhido. Comecei a dançar para não fazer desfeita com tamanha receptividade, mas, depois continuei dançando por livre e espontânea vontade. 

O arrocha voltou a imperar, e eu já não conseguia fica sentada. A energia me contagiou de tal maneira que já estava inserida no grupo. Quando lembrei o que tinha ido fazer lá, gritei: Mãe, me dê a chave, vou pra casa. Cheguei em casa às 3 da manhã, sem sacolas, sem fome e com um sorriso abestalhado, me perguntando sozinha: O que eu fui fazer lá? A resposta vinha sem esforço: “Minha etnografia!”. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cópia de algumas postagem do meu perfil do Facebook

Divulgando: https://www.facebook.com/larissa.cordeiro.7



O mundo corporativo me obrigando a ouvir: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”


Então, defina juízo. Pois, no meu mundo, os ajuizados DESobedecem.

Bora mudar o dizerzin para: Manda quem QUER, obedece quem tem algum INTERESSE.

Bom dia pra todos os “rebeldes sem causa”. (sem causa é ótimo...rs) — se sentindo Enojada! em Morumbi Shopping.


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Agora o mundo todo vai "zoar" o Corinthians por causa da torcida organizada Gaivotas Fiéis. Como se ter gays em qualquer grupo fosse um crime!! Como se SER gay fosse um crime! 
Mesma galera que se diz contra a homofobia. 

"Por que gay pode tudo, menos ter time de futebol e torcer, pois, futebol AINDA é coisa pra "macho". 

Não sei pq insisto em me admirar com essa sociedade... 

Abaixo a ignorância!


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Todas as manhãs meu ódio toma fermento. Sou uma puta do capitalismo. Saio de casa ainda nem clareou, quando volto tá escuro.

Mas não posso reclamar muito, afinal posso ver o céu pela janela.


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Estudante de Sociologia comemorando a morte do MC Daleste, é pra rir ou pra chorar? 

Eis aí a diferença abissal entre eu e esse bando de playboy que estuda sociologia pra contrariar o pai. Que nojo!!!!

Eu não gosto de funk, nunca fui pra um baile funk e até pouco tempo tinha bastante preconceito sobre ele. Mas hoje eu bato no peito com orgulho de dizer que o funk me representa sim!! E FODONA sou eu, a favelada que foi capaz de ler Marx e não seguir sendo o mesmo ser humano medíocre!!

Mas, é de se esperar que a playboyzada que lê tanto sobre a favela, problemas sociais e a porra toda, tenha este tipo de discurso. Trouxa sou eu que espero algo de sensato daquele que passou a vida inteira na teoria se achando o fodão. kkkkkk

Realmente nessa porra de luta de classes só existem dois lados, e eu definitivamente, não estou do lado do opressor! 

MC Daleste, descanse em paz. Sua história é a minha história!!! 

Minha História - Mc Daleste

Quando comecei passava mó dificuldade
E la em casa era fora de realidade
É revoltante eu sei senti o gosto do veneno
Até meus 13 anos de idade não tinha banheiro

E la em casa as paredes eram de madeira
Lembro como se fosse agora quando abri a geladeira
Não tinha nada pra comer e a barriga vazia
Acho que posso conseguir aguentar por mais alguns dias

Mais amanha eu vou pra escola e como na merenda
Sábado e domingo é difícil mais agente aguenta
Mais a fome não é nada em relação ao principal
Nunca intendi por que nunca tive uma família normal

Minha mãe e meu pai trabalhando eu e meu irmão na escola
Minha irmã mais velha na faculdade mais á vida é foda
Tudo ao contrario meu destino aconteceu
Mais entreguei isso tudo {uuu} nas mãos de deus

E hoje estou aqui passando adiante
Cantando a minha história em cima de um batidão do funk
Muito obrigado a atenção de todos vocês
O resto desta historia venho cantar outra vez..

Mais uma coisa eu tenho a dizer
Nunca desista de verdade por que ...

[eu sou vencedor na porra do bagulho
Eu sou funkeiro sim e disso me orgulho
Levo no peito as cicatrizes do preconceito
Quem não é mete o pé e quem é ganha meu respeito

E é por isso que eu estou promovendo
Á guerra dos funkeiro que que significa isso ai?
Segura ai dj

Tem muita gente preconceituosa certo?
Que oprime nosso estilos de vida certo? eu sou funkeiro ,
Todo mundo aqui é funkeiro , certo
Então tem muitas vidas envolvidas nesse meio certo?
E tem muita gente que faz xacota ta ligado !
Por que nóis é funkeiro , nóis é favelado e não tem onde morar certo irmão!?
Mais aí minha agenda graças a deus ta lotada e de lugares
Classe A certo , então não é só o favelado que curte funk certo ,
Pessoas de classe média ,classe alta, e classe baixa curte funk
Por que funk é cultura sim então

Essa é a guerra dos funkeiros quem ta envolvido levanta a mão pro alto é assim que é rapaz!!

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Quando socaram o racismo no teu cu, você gozou?

Ahh foda-se, a galera conhece minha linguagem! 


Acabei de ouvir a seguinte história, e nem vou me prestar ao ridículo papel de duvidar da veracidade dos fatos. 
Uma mãe que, na mesa de cirurgia, após a Cesária, esperava ansiosamente por sua filha. Mas não para conhecer o rosto de quem ela já amava antes de mais nada, nem para saborear os ouvidos com o timbre do choro do ser humano que saiu de dentro dela. Não para amar e ensinar o amor. Mas para certificar a “qualidade” do cabelo da criança!!!

(Sim. Você não esta lendo uma piada... Calma, não se mate agora, leia até o final). 

Eis que quando sai a criança, a mãe se põe a chorar. E eu prefiro acreditar que - pelo menos por instinto - uma mescla de sentimento materno, era integrante do choro. Mas ela chora por outra coisa: “O cabelo da minha filha é ‘ruim’.” 

É parça, não foi só vc que pensou em dar o cu pra uns 437 cavalos depois de ouvir isso, eu também mano... 

Bom, mas agora eu não quero pensar em todos os problemas que surgirão na vida dessa criança, por culpa do Racismo. Isso vai me deixar zonza. 

Quero pensar nas pessoas que perpetuam e legitimam o racismo, ao me classificar como “dramática” nessa narrativa. É nisso que vou pensar agora... Fui! (morrer de depressão).  

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fingindo ser Positiva

Texto antigo, época em que eu acreditava em algo. 


Sabe as flores? Elas morrem.
Sabe as pessoas? Elas mentem.
Sabe a força? Ela acaba.
Sabe a vida? Chega ao fim.
“A vida é uma alucinante aventura da qual nunca sairemos vivos”

Tendo plena consciência de que tudo, definitivamente TUDO, chega ao fim, o que realmente importa? De que vale este esforço todo? Esse ‘sofrimento’ todo?
Você sabe que vai morrer, mas mesmo assim vai passar a vida inteira, lutando - mesmo que inconscientemente - pra ser feliz; Independente da definição particular da palavra “felicidade” de cada um. Todos estamos em busca daquilo que pra NÓS, significa felicidade.

Seria válido “perder” o que talvez seja a única vida que nos foi dada, só pq sabemos que morreremos? Seria lógico isso?

Acho que a essência de tudo é a evolução. Não adianta choramingar porque esta vivendo x ou y situação, a única coisa que realmente é válida e importante é a tua EVOLUÇÃO. O que você aprendeu com isso, aquilo? Não podemos odiar a flor por saber que um dia ela estará murcha, temos que enxergar também a beleza que ela exalou enquanto viva, por encher nossos olhos de alegria ao prestigiar tua cor, tipo, beleza, forma, e porque não, ao prestigiar tua morte?

Acho que a vida é bem aquilo: uma peça de teatro onde cabe a nós aproveitar o intervalo antes que a tal cortina se feche.
E enquanto tuas lagrimas forem reflexo do teu crescimento e aprendizado, JAMAIS se envergonhe delas.

=)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Diamantes e bosta!

A luta de classes fede. 

Todas as manhãs a mesma coisa: O trem destinado ao Grajaú lotado, contornando o Rio Pinheiros enquanto as capivaras matam a sede, o mau-humor latente em cada expressão. O fedô do Rio adentrando nos pulmões dos ciclistas que pedalam às margens - como se isso fosse gostoso, saudável. A cada estação, parece que o cheiro fica mais insuportável, na mesma medida em que os prédios ficam mais modernos, altos e “bonitos”. O espelhado das janelas reflete a merda boiando. A porta abre e meu estomago embrulha, o cheiro entra no vagão como um espírito nos rodeando, quando não nos ultrapassa. O barulho causado pelo salto do sapado alto no chão, me deixa mais enjoada.

O risquinho vermelho na parte superior da foto, é o trem.

O fedô do Rio Pinheiros não fica do outro lado da marginal.
O cheiro não respeita os muros invisíveis que nós construímos. As pessoas sim, o fedô não.
Você desce na estação Morumbi pisando forte na sua humanidade pra assegurar ou reafirmar sua arrogância.
Arrastando o peso do seu ego pelas calçadas, que estão sendo varridas pelos garis que já foram reificados pelos teus olhos de pseudo-burgues. 
Com seu olhar cortante de desprezo, causando estardalhaço com sua ignorância.
Aproximadamente 500 metros dali esta a entrada do Morumbi Shopping, tudo perfumado, cheirando a papel verde. Os seguranças me olham desconfiados, apresento o crachá e sou “liberada”.

Você cheira a Tietê. Seu terno é como o lixo que boia no Rio sujo.
Eu olho pela janela do trem, não sei quem é mais sujo, o Rio ou você.
Não posso dormir, nem comer, sinto nojo do clima que me cerca. E nojo do nojo que me enoja por ti.
Um dia me disseram que o ódio que tenho por vocês, me faz tão fedorenta como o Rio. Mas, certamente, jamais me faria fedorenta como você, então foda-se. 

Será que estamos todos sentindo o mesmo cheiro? Será que todos vemos o mesmo rio nojento e poluído pela janela do trem? Quantos de nós se incomodam realmente com isso? 
Da onde vem esse fedô? Do rio ou de nós?

Aqui é tudo líquido. Tanto a merda quanto as vendedoras da Vivara. Tanto eu, quanto você e seu smoking carérrimo.
Aqui é tudo nojento, então, esperemos a sexta-feira chegar, bora ali num restaurante na Berrini, tomar uma sopa de merda, e beber aquela taça de estrume!





segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Vejo além de tudo, em tudo.

O cansaço de pensar. 


Por que diabos eu não estava entre os que riam? 



Hoje de manhã, duas domésticas numa conversa despreocupada no trem destinado à Grajaú (Linha que passa pela playboyzada da Sul). 
Idolatravam a patroa, falavam do marido pedreiro, das crianças que criam enquanto seus filhos morrem, de sexo, de roupa, de trabalho. Apenas conversando... 
E o bando de imbecil que se acham OS RICOS DO ROLÊ, que pagam 3 conto igual a elas pra ser humilhado nesse transporte lixoso de SP, rindo horrores, ridicularizando, disputando até nas “caras fechadas” quem está odiando mais a conversa. 
Em SP rola muito disso, disputa pelo troféu da antipatia, da grosseria, da pressa e da indiferença. Cara amarrada é sinônimo de superioridade, simpatia é coisa de gente pobre e carente. Quanto mais mal-humorado você for, mais respeitado é. 

“Pois, nós somos finos, elegantes e educados. Não falamos da nossa rotina no trem, pois isso é coisa de pobre. Nós apenas rimos de quem fala, e fingimos que não estamos “interessados” nas histórias. 
Trabalhamos em escritórios, com computadores, por mais de 10 horas por dia, somos superiores”. 

Sabe a preguiça de argumentar? Então... 

=(

Depressão Pós Moderna


Sente o drama: 

Ouso dizer que o sentimento desesperador é comum a todo jovem na atualidade. Talvez você acha que não sabe do que estou falando, então vou desenhar. 



Sonhamos com a independência financeira.
Arrumamos um emprego. O emprego não é bom, mas para arrumar um melhor, precisamos estudar. Então trabalhamos feito um bando de pau no cu, para pagar os estudos.
Dormimos menos de 6 horas por noite (BEM MENOS), estamos constantemente cansados.

Nos drogamos no final de semana, (PRA ALGUNS TODOS OS DIAS) na tentativa frustrada de aliviar o stress permanente. Isso quando nos sobra coragem pra sair de casa. Só de pensar no itinerário percorrido até o rolê, o frio que passaremos enquanto esperamos o metrô abrir, ah não, preferimos dormir. 
Juramos responder sms, mensagens de amigos antigos no facebook, telefonemas pessoais. Juramos pagar aquelas visitas em atraso. Juramos visitar os avós, os familiares. 

Sexo casual é só mais um membro da lista de “saídas” que encontramos. Ou melhor, achamos que encontramos. Outros de nós, casam-se, teem filhos, vão à qualquer igreja. Tentam levar a vida numa boa, sem solavancos. Acham que conseguem...rsrs Fora a arte de nos equilibrar entre escolhas e consequências o tempo todo. Mandar o chefe tomar no cu ou não? Chegar em casa à 1 da manhã, comer ou dormir? Fugir pro mato, viver de amor e música, ou não? Se curvar perante essa servidão voluntária, ou não? Nos render ao maldito sistema, ou não? Guardar o dinheiro que lutamos tanto pra conseguir, ou o FODA-SE?

Mas a questão é que estamos doentes. Definitivamente enfermos. Tenho a real impressão de que somos – mesmo que inconscientemente – guiados pela busca incessante e desesperada pela cura. Pra alguns, cura é luxo, apenas um alívio bastaria. Guiados pela maldita esperança de que existe alguma possibilidade de sentido nessa porra de vida, nessa existência estúpida. 

Morre esperança, morre vai?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mais amor, menos teoria.

Mais sensibilidade, menos falácia. 



Diga-me qual metamorfose não é dolorosa, e eu lhe direi qual convicção é vantajosa. 


Eruditos¹ de todos os países, uni-vos para refletir aqui comigo, sobre o quão vocês são patéticos. 
Este é um breve papo sobre humanidade. A única área do conhecimento humano, que você está distante de dominar. 


Imaginem um ignorante. Um “ignorante tradicional”.  Não é difícil pra você, afinal você vive assumindo e sublinhando a sua ignorância por aí, numa tentativa frustrada de mostrar à todos que já leu Sócrates. Mas, imaginem um ignorante que se quer tem noção da própria estupidez. Aquele que nunca se pois a refletir sobre nada, nem crise existencial o coitado não teve. Então, é desse tipo de pessoa que estamos falando, não sobre você. 

Eu vou contar obviedades. SQN
Do dia em que nasceu até hoje, com 20 anos, ela se dedicou ao conjunto de regras pré-estabelecidas, que lhe foi apresentado. Apresentado não, imposto. Normas de nossa sociedade patriarcal, conservadora, machista e reacionária. Mulher pregada na cruz sangrenta da moral cristã, ignorante e sonhadora. Os laços emocionais que ela criou em TODAS as áreas de sua vida, estão diretamente ligados à este conjunto de regras, ou talvez unicamente ligados a isso. 
 E todos aqui concordam que, caso um fio deste laço, se quer seja afrouxado, a consequência é devastadora. Um exemplo péssimo: Ela era do tipo que sonhava com os relacionamentos perfeitos pintados na tela da placa da igreja do bairro, pelo pastor que fingia ser pintor. Aquelas que sonham com vestido branco e a musiquinha famosa de uma cerimonia de casamento. Com mãos dadas na rua, e bodas de ouro, prata, qualquer porra. Que sonha com reciprocidade sentimental. E acredita nisso mais que tudo. Que quer ir no geriatra com seu marido, que é inclusive, seu primeiro namorado. Que sonha sim, com aquela outra porra de “até que a morte os separe”. 
Mas de repente, ela se torna aquela mulher que tem horror a compromisso, aversão a romantismo, pavor a fidelidade e nem sabe o que é reciprocidade sentimental. Aquela mulher libertina, decidida, independente, com personalidade e realista. Que quer mesmo um homem por dia da semana, sexo com qualquer pessoa ou coisa, até arder sua buceta. Baladas, festas, liberdade. Aquela que abandonou a moral e foi ser militante do movimento feminista. 

Qual é o problema? Nenhum. Nisso não há problema. O problema está nos motivos pelos quais essa “mulher” se tornou “Mulher”. Ouso supor - só supor - que existe uma pressão gigantesca para o extremismo. Em casa tem que ser santa, na rua tem que ser puta. O extremo de qualquer lado, fere. Não acho que seja direito de uma mulher feminista esfregar na cara da menina machista, o quanto ela é uma imbecil por não transar com 437 cavalos numa noite. Isso é agressão. De forma geral, ouso dizer que o caminho escolhido pelas eruditas para propagar o conhecimento e a libertação, não seja nada convidativo. 
Quando se dedica uma vida à um discurso, não é outro discurso que o derrubará. Pois a vida, ultrapassa as barreiras de um discurso. Vida é vivida. Então não se trata de abandonar apenas um discurso, o que pros eruditos e eruditas é muito fácil, mas trata-se de abandonar um pedaço de vida, vivida. 
Então não venha me falar disso. De sociologia, de ciência, de verbete, de discurso e de blá blá. Espero que os cientistas saibam respeitar a dor. Sei que espero errado, mas foda-se. Cientistas também são pessoas. 

O que trago aqui, é uma reflexão sobre os valores. Valores universais que transcendem toda e qualquer ciência. Caso as análises sociológicas, filosóficas, histórias ou políticas, diminuíssem ou aliviassem a dor do ou da oprimida em qualquer esfera, eu as aceitaria como solução plausível. Mas não. Hoje não. Agora não. 
Só exijo a liberdade de sentir, essa dor tão prazerosa que mantém viva. 

Agora, eu volto pra teoria Socrática, justamente pra “falar sua língua” e bater no peito pra lhe dizer que a única convicção vantajosa, é a ignorância. Isso mesmo man, você não manja de todos os paranauê, então, dá uma segurada. 

Beijos. 

¹Que tem profundos e vastos conhecimentos. Homem muito sabedor. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A insuficiência do sistema público de ensino e seu reflexo na academia.



Por muito tempo as beiradas dessa grande cidade foram - e ainda são - saqueadas diariamente pela ganância burguesa. Assim, temos nossas vocações amputadas. O jovem de 15 anos que poderia ser um advogado, é transformado em traficante de drogas. Aquele que poderia ser um Juiz é transformado num assaltante de bancos, outro que poderia ser médico é reduzido a programas de prostituição, aqueles que poderiam ser empresários ou empresários bem sucedidos, geradores de oportunidades para seus pares, são transformados em serventes de pedreiro e/ou domésticas.


E a pergunta que não quer calar é: por quê? 




De todos os estudantes de graduação da Universidade de São Paulo, apenas 1,3% são negros, 8,3% são pardos e 4% são provenientes da rede de ensino público. Esses dados são de 2006, se não me engano, mas aposto minha vida, que ainda hoje a situação permanece igual, senão pior, se atualizarmos os dados. Mas, por que será?
Nós, aqui da periferia, do outro lado do muro, passamos - quando passamos - onze anos de nossas vidas nas escolas, mas não aprendendo algo que poderá nos ser útil futuramente, ao contrário, somos trancafiados num depósito de pobre e preto, que nomeiam de escola. Os melhores alunos destes depósitos são, no máximo, analfabetos funcionais. Não sabemos ler um texto, que dirá escrever um. Mas, por que será?
É sabido que muitos de nós não temos acesso aos direitos básicos para sobrevivência, como por exemplo, água potável, saneamento etc., porém, o que mais me intriga é que nós pagamos por esses serviços. Não possível que alguns ainda acreditem no conto de que pobre não paga imposto! Imposto que por lei garanta: educação, segurança, moradia e transporte de qualidade. A diferença, caríssimo, é que o dinheiro dos nossos impostos são convertidos em melhorias no armamento da Polícia Militar que utiliza este mesmo armamento para nos exterminar. Mas, por que será?
A grande maioria dos formandos do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública, não tem nem de longe a capacidade para passar na entrevista de emprego de qualquer empresa, até mesmo de telemarketing, dirá nos vestibulares de qualquer universidade pública. É importante salientar que essa incapacidade, não é natural do indivíduo. Somos mais do que capazes, o que nos falta é apenas oportunidade igualitária como cidadãos, mas até isso nos é negado. Como querem que nós disputemos qualquer coisa, com um jovem de classe média alta que passou a vida inteira estudando num colégio trilíngue, enquanto nós nos dirigimos diariamente às escolas por um único motivo, a merenda.
Diante do exposto, não é exagero dizer que ensino superior no Brasil é pra quem tem “paitrocinio”. É pra elite. São dados estatísticos que revelam isso, não minha van perspectiva de via, apesar dela também. O sonho de ingressar numa universidade, pode até ser comum às duas classes, mas só é possível escolher de forma livre, para uma.
Ainda que "a nova classe média" - graças à mercantilização do ensino pelas “Uni alguma coisa” a fora, aos programas de financiamentos do governo Lula, ás cotas - comece marcar presença no ensino superior, ainda temos um longo caminho para percorrer. O fato de hoje, um jovem, como eu, conseguir custear a mensalidade de uma graduação, não é sinônimo de inclusão educacional. Ainda existem os "filtros acadêmicos". O que me admira é que mesmo sendo o Brasil a sexta economia mundial, a juventude pobre ainda não tem direito de escolher sua própria profissão. Mas por que será?
 Um jovem pobre não pode querer ser médico, historiador, filósofo ou artista, por exemplo. Servente de pedreiro, empregada doméstica, porteiro, segurança, passadeira e todas as “carreiras” subalternas são possibilidades mais positivas para esse jovem “escolarizado”. Para a juventude pobre existem os cursos universitários que são "proibidos" e existem os cursos "indicados". Você já viu algum pobre fazendo Curadorismo e Crítica na PUC? Ou Artes plásticas UNIFESP? Música na USP? Não. Pobre faz administração, logística ou marketing na Uninove, Unicid, UniSantana etc.
Isso é inclusão educacional? Se for, sinceramente, perdemos o significado e o sentido do que de fato é educação. 
 Nossa juventude trabalha até 10 horas por dia pra ganhar um salário mínimo, quando ganha, e se quiser estudar para ganhar um salário mínimo e meio, tem que custear sozinho seus estudos. Não fomos capacitados para ingressar em universidades públicas. E isso é um desrespeito com os direitos civis, sociais e políticos que estão claramente garantidos na Constituição. Enquanto um jovem de classe média alta for preparado para comandar os cargos de comando das empresas e da política e outro jovem, da mesma idade, da classe média baixa, for adestrado para empacotar as compras, ou entregar pizzas, permaneceremos estacionados no terceiro mundo.  Sonho? Não, nada disso, você não esta entendendo. Pobre não pode sonhar. Isso fica pra uma próxima oportunidade - tipo reencarnação, quem sabe?
 Também não posso deixar de destacar que há pouco tempo, essa realidade caminha vagarosamente para mudanças positivas. Essa falsa "inclusão educacional tardia” do menos favorecido está causando grande rebuliço nas estruturas elitizadas das universidades por aí a fora. Acontece devagarzinho, mas não diminuiu, ainda, o espanto da playboyzada ao dividir a sala de aula com um favelado.  
 Enfim, voltando ao problema principal, devo informar que apesar de ser pobre eu não me rendi ao protocolo social. Teimei em não adiar meus sonhos e estou estudando Sociologia e Política na FESPSP. Devo também informar que eu trabalho 10 horas por dia para custear meus estudos.
 Agora, vou relatar minhas experiências adquiridas em meros sete meses frequentando as aulas na FESP, e considerando justamente, que como cientista social, historiador, educador etc., ser humano, você seja capaz de compreender este fenômeno social. Confio em você!
 Tem gente que estuda Sociologia pra contrariar o pai, outros estudam porque esta na moda se preocupar com os problemas sociais, há aqueles que estudam porque é bonito ser intelectual e ainda tem os que acreditam e alimentam aquele velho sonho de mudar o mundo – o que muitos dirão que é utopia.  A diversidade socioeconômica encontrada numa sala de aula da FESP hoje é linda. E eu sou um exemplo vivo disso. A instituição comemorou recentemente 80 anos, e ouso dizer que ela jamais teve tanto favelado matriculado. (quando digo tanto, me refiro sem medo a uns 50 alunos de todos os três cursos oferecidos).
O que eu não previ ao ir contra tudo e todos e estudar Ciências Sociais, foi atestar dia após dia o quão esta instituição está totalmente despreparada para receber o tão estudado objeto, o proletariado, o menos favorecido. Sim, pasme-se, justamente o objeto de estudo!
 Quando entrei na sala de aula de uma universidade, foi inevitável e imprevisível estranhar aquele lugar. Foi diferente de tudo que eu sabia e imaginava a respeito. Primeiro, porque tive que me esforçar para compreender e me acostumar com a linguagem usada pelos professores e por alguns alunos. E segundo, pelo tempo que demorei a perceber, a carga de leitura definitivamente era colossal. Imaginei que eu teria que ler apenas o que os professores solicitassem - o que em minha opinião já era muita coisa -, mas não.
Nos primeiros meses fui submetida a um tratamento de choque de realidade. Um método eficiente - até certo ponto - utilizado pela instituição, e por “alunos mestres” , deduzo eu que para sublinhar a abissal diferença entre o ensino médio e a universidade, e também para atestar a qualidade de ensino daqui. Método que lhe faz perceber que todos os anos gastos de sua vida desde a primeira série até o terceiro ano, se revelam inúteis. Método cruel, que lhe joga na cara a todo o momento o quão você é ignorante e morrerá sendo, mesmo que se esforce ao máximo para deixar de ser. O método consiste no espanto do professor ao descobrir que nem todos os alunos da classe leram os autores clássicos e aparentemente "obrigatórios" para estudantes de sociologia – e consequentemente para a minha surpresa ao descobrir que eu já tinha que ter lido todos. Consiste, portanto, num ciclo de surpresas, os professores me estranhando e eu estranhando eles. Bizarro!
  De certa forma essa estrutura funciona, pois desperta nos alunos o interesse em ser menos inútil. Em contrapartida, tem o efeito contrário em outros, que logo na primeira semana abandonam o curso e pacificamente aceitam tua irrevogável condição de boçal. 
Depois de quase perder a sanidade mental por conta deste tratamento de choque, eu comecei a observar o meio. Até então estava ocupada demais pensando numa saída para minha ignorância. Ao observar as nuances desse espaço, percebi que, o rapaz (“aluno-mestre”) que é pós doutor em algum assunto, entende tudo sobre ele. Este mesmo rapaz que quase descobriu o sentido da vida com tanto conhecimento acumulado durante anos não consegue, por exemplo, se comunicar com outro indivíduo de nível intelectual inferior. Vai lá, tenta, faz o teste pra ver se ele consegue? A expressão chega atrofiar.  Em suas palavras, peça para um professor da ESP dialogar com seu objeto de estudo que certamente não possui a mesma construção e acumulação de signos ideológicos. Ele não consegue .
 Minha primeira sensação era de que para conseguir saudar - com um mero “bom dia!” - um ser supremo desses, eu teria que ter bibliografia básica. E eu queria muito estar exagerando em minhas colocações, mas, infelizmente, não estou. Descobri que para ingressar no primeiro semestre o pré-requisito era o mesmo, bibliografia básica. E sinceramente comecei a me sentir envergonhada por não ter.
Cada palavra dita em aula parecia ser pronunciada unicamente com o propósito de esbanjar um imenso e superior vocabulário e conhecimento. Até as conversas na mesa do bar eram mediadas por referências á autores e livros que nunca ouvi sussurros longínquos sobre. Descobri que eu precisaria de um milagre para correr atrás do tempo perdido e me informar um pouco.
- Como vocês nunca leram Platão? Que espécie de Cientistas Sociais serão vocês? Bradou o professor de uma disciplina dentro da sala.
Eu deveria ter respondido a pergunta. Pois, quem a fez, apesar de colecionar diplomas justamente sobre a minha espécie, não sabia nada sobre ela.
 Outra sensação que tive é que a última preocupação que o indivíduo tem ao abrir a boca é transmitir conhecimento. Para os semideuses, dividir o saber é o mesmo que por um revolver na testa do jovem e puxar o gatilho; o mesmo que escrever o nome por extenso na linha pontilhada de uma certidão de transferência de patrimônio. 
Algumas aulas podem ser tranquilamente comparadas a uma palestra, onde todos possuem total domínio sobre o que está sendo dito e não necessitam de introdução ou tempo para processar as informações.
 Ok. Já sei que não estou no jardim de infância e que a universidade exige todo um blá blá blá de conhecimento e um vocabulário extenso e uma norma culta etc.
Na FESPSP os profissionais são dignos de respeito e admiração. Isso é inegável. Mas será que flexibilizar a didática para que alguém sem embasamento consiga acompanhar o raciocínio e o conteúdo - ainda que nebulosa - a cerca do que está sendo dito, seria pedir muito, muito mesmo? É... no caso de Ciências Sociais, eu diria que sim.
 Enfim, deve ser mesmo muito impactante e complicado para uma universidade que passou 80 anos formando elites, aceitar a matrícula de um favelado, ou pior, de ALGUNS favelados – no plural. E os professores? Deve ser realmente difícil conduzir uma aula hoje em dia.  Nunca na vida precisaram flexibilizar a didática para que alunos despreparados consigam compreender, afinal não existiam alunos despreparados!!
 Mas a questão é que de pouco em pouco a periferia está marcando presença e conquistando seu espaço na  academia. E a burguesia pira com tudo isso. Rs. 
Caso eu estivesse matriculada em qualquer outro curso de qualquer outra Uni da vida, e me deparasse com estes probleminhas de percursos, seria teoricamente aceitável. O difícil é estudar sociologia e não ser compreendida nesta esfera. É exatamente neste instante que dou a luz a um filhote de cruz-credo de tanta indignação. É SOCIOLOGIA Cara...!
Um professor de uma universidade de sociologia, ter a pachorra de dizer à classe, que dará falta pra todo aluno que se atrasar pra aula do infeliz, é praticamente ser vencedor do prêmio Nobel de hipocrisia mesclada com ironia. Olha para o tratamento! Não tenho vontade de argumentar delicadamente, mas é preciso, senão perde-se o direito de fala, o que praticamente não se tem. "Querido doutor X, não me atrasei para sua aula, por estar aguardando o shofer, o taxi, a vitamina de leite com pêra, a chegada do meu plastaytion 15, ou a burocracia do aeroporto internacional. Pelo contrário, querido Dr., me atrasei por estar aguardando na quinta fila a vaga no motor da lotação, a porcaria do metrô da linha vermelha ou ainda a enchente lá da vila baixar para não molhar a vestimenta, melhor, indumentária."
 Deparar-se com a própria ignorância é fascinante, pois funciona como combustível para vida, porém, quando nem a vontade de aprender é válida, a ignorância torna-se favorável a desistência da mesma.
 Escrevo por uma educação libertadora, emancipadora, como li recentemente, que pare de adestrar os pobres para servirem as mesas e responderem sim Senhor e não Senhor, e acredito que se essa meta não for à de uma instituição como a FESPSP, não será a meta de nenhuma outra.
 Preciso de ajuda...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Funk: lixoso é meu preconceito!


Dedico essa reflexão aos que realmente estão preocupados com os rumos da nossa sociedade e principalmente da juventude. Dedico aos que estão realmente interessados em ajudar. Aos que só querem causar intriga e mais segregação, eu sugiro que permaneçam nessa bolha de "velhas opiniões formadas sobre tudo" e não se dêem o trabalho de lê-la. – Larissa Cordeiro.


Mulher, 20 anos, aspirante á intelectual, crítica, chata e sensível. Dizia-me preocupada com o futuro dos jovens que cantam e/ou escutam o Funk, mesma preocupação que os conservadores tem ao contrariar a proposta de cotas, sabe? Então...
Estudo sociologia por inúmeros motivos, mas ouso resumi-los: (a) insatisfação constante com a realidade; (b) extrema necessidade de compreende-la e de alguma forma provocar mudanças significativas.

Cresci ouvindo reggae, rap e MPB. Na minha cabeça - fechada, dura e pequena - esses eram os estilos musicais dignos de atenção, pois traziam conteúdo de "qualidade".  Todo resto, para mim, era desprezado, e o funk conseguia ser mais que desprezado, eu o tratava como nada, um (des)serviço social. É importante dizer que, toda essa avaliação era feita com base nos meus próprios parâmetros de bom, ruim, cultura, não-cultura, moral, imoral. Parâmetros formados e abastecidos por discursos conservadores típicos dessa grande metrópole chamada Terra da Garoa.

 Mas o que é música de qualidade? O que é cultura? O que não é cultura? O Funk é cultura? Deve ser desprezado? O que é preconceito? O que é sensatez? E a compreensão, existe?
Não tenho respostas pra nada, e isso é o mais legal de tudo, pois quando comecei a questionar-me sobre tudo isso, ficou bem mais difícil desprezar o funk seja como expressão popular, como cultura etc. Minha primeira tarefa foi abandonar o ódio ao ritmo e tratar este fenômeno social, com o devido respeito. Se for pra ser aquele cientista social que só enxerga os fenômenos sociais que quero enxergar, prefiro não sê-lo.
Existe uma linha tênue que divide o som que você vai ouvir no seu fone de ouvido, no seu carro, na sua casa, e a tal sonhada compreensão sobre o fenômeno, seja ele o funk ou qualquer que seja. Não estou pedindo que todos os eruditos destruam seus discos do Vivaldi e Beethoven e os troque por arquivos digitais (MP3) do MC Daleste e MC Felipe Boladão (Isso é pra quem pode, não pra quem quer...rs). O que estou pedindo é que você disponibilize-se a refletir e enxergar que o artista que compõe uma ópera, é tão ser humano e artista, quanto o que canta "Mata os puliça é nossa meta".

 Quais foram as situações político, sociais, ideológicas, econômicas as quais Vivaldi fora exposto desde pequeno, para que sua música fosse tão "boa" e apreciada mundo a fora? A mesma pergunta cabe à cada MC morto misteriosamente em São Paulo, por cantar o que nós, intelectuais modernos e progressistas, não queremos ouvir. Cada MC morto em SP está dentro da lógica do extermínio da população jovem, pobre e preta de São Paulo.
– Larissa, o que é "genocídio da população jovem, pobre e preta de São Paulo"? Perguntou meu irmão para mim durante um Debate que ocorreu na biblioteca Mario de Andrade no último sábado (24/08/2013) – muita calma nessa hora grande intelectual/erudito, se para você é complicado entender, o que não deveria ser, eu lhe explico, tem gente que não sabe, ok?

Calmamente explico a ele: é quando você - pobre, preto e favelado - não é reconhecido na sociedade (não tem moral, saca?) e por isso é visto como digno de morrer, por decisão de um Estado fascista, racista e outros “istas” existentes. É quando você tenta cantar sua música, com suas palavras, com seu conhecimento, com suas “armas”, e é recebido carinhosamente pela Polícia Militar de São Paulo à tiros de escopeta. É quando no cemitério mais perto da sua quebrada, tem um amigo de infância enterrado porque a polícia matou. É quando a polícia invade o morro e/ou sua casa e sua mãe ora. Tenho certeza que você sabe do que estamos falando, você não sabia que existia um modo “bonitinho” de falar sobre toda essa violência.
 Quando um jovem de 20 anos aspira uma posição socioeconômica elevada, e consegue alcançá-la cantando funk, a sociedade entra em choque. Você deve estar se perguntando: como assim? Por quê? É cara pálida, realmente, isso é inadmissível. “Vamos criminalizar, afinal, cantar funk não é trabalho. Mas cantar rock é. Por quê? Porque alguém quer que seja assim”.

Quando um jovem de periferia compra um carro de R$ 100.000,00 com o dinheiro do "funk lixoso", os conservadores e tradicionalistas piram. Os pseudo-esquerdistas piram. Quase todo mundo, pira! Felizmente que é quase todo mundo. E o Estado, o que faz? Essa resposta é óbvia, afinal, está em todos os telejornalismos sensacionalistas, manda matar, oras. "Por que pobre não pode ser nada, ter nada, sonhar com nada. Pobre tem que se manter e aceitar a sua condição de eterno sofredor."
 Eu não queria que fosse este tipo de cultura que os jovens acreditassem ser a solução dos problemas, por um único motivo: este estilo musical sofre tanta discriminação que, Daleste não é o primeiro da esfera a morrer assassinado inexplicavelmente, e não será o último - infelizmente.  Caso os jovens se tornassem MCs (vendo isso como a "solução dos problemas") e tivessem a segurança de que não seriam mortos por cantarem o que querem cantar, eu não ficaria tão preocupada. E ainda diria: Quer ser MC? Vai na fé! 
Mas como vou propor isso aos jovens, se os MC estão sendo exterminados, como se a morte deles sanasse os problemas sociais?
Quer dizer, agora só pode cantar o que o Outro decretar que pode? Só pode falar o que o outro quer ouvir? Só pode ostentar quem tem dinheiro? Fazer isso é o mesmo que dizer: "Juventude pobre, cale-se! Neste mundo não existe espaço pra vocês acharem que podem algo."

 Porque será que um jovem de periferia não presta atenção nas aulas, não frequenta a escola, não respeita os ouvidos alheios, sonha em ser traficante, assaltante e matar PMs? Porque uma jovem de periferia sonha em ser prostituta? Sonha em vender seu corpo em troca de algum status e fama? E porque que isso deve ser regra aos pobres? 
Existe uma série de motivos que são muitos mais pertinentes do que "ouvir funk", dirão os “especialistas”. O funk em São Paulo explodiu agora, e não deve ser culpabilizado pelas mazelas de nossa sociedade, pois elas sempre existiram.
Matar o funkeiro não resolverá o problema. Matar o funkeiro não acabará com o Funk. Matar o preto não lhe tornará branco. Matar o pobre não lhe enriquecerá. MC Daleste morreu trabalhando, isso não tem nada a ver com o ritmo musical. Morreu no palco, fazendo o que gostava, cantando. Agora se você gosta de funk, de clássico, de bossa nova ou de pagode, é outra coisa. Se o que ele faz é para você, bom ou ruim, do bem ou do mau, não justifica nem minimiza o absurdo que foi a sua morte.
A discussão não é sobre o funk. É sobre a vida. Vida de milhares de jovens que são criminalizados e violentados por um Estado ausente que atua com uma política de exceção. Não sou fã de nenhum funkeiro ou do funk propriamente, mas sou fã da vida e do direito de viver.

 Mais uma vez podemos identificar o Estado tentando transferir sua responsabilidade e ausência para com esses jovens criminalizando o funk. Olha o ponto que chegamos! O Estado não lhes da saúde, moradia, educação de qualidade e tudo mais que a Constituição exige, mas quer cobrar tudo isso dos mesmos jovens. Muito coerente. É como pedir vinho pra quem só tem água. Nenhum jovem da periferia é Jesus, ok? Pedir para lhe dar o que jamais recebeu é bastante injusto, não acha?
Ser MC pode livrar este jovem das drogas, do crime, pode oferecer a ele "um futuro", do contrário do que alguns acreditam nem todo jovem que está ligado ao Funk é traficante ou ladrão. E por que ele não pode? Na verdade, ele nunca pôde. Só pode fazer o que a burguesia estabelece que ele faça, ou seja, seja massa de manobra. Só pode trabalhar 10 horas do dia de segunda a sábado pra ganhar um salário mínimo, quando muito, R$ 900,00 – tendo base que esses novecentos reais serão repartidos entre impostos, alimentação, luz, água, aluguel etc.

Se a tendência dos jovens que escutam funk é ser parecido com os ídolos, que essa tendência se firme como propósito, oras! Pois eu prefiro que um jovem seja cantor de funk de ostentação do que um drogado ou assaltante tendo bocas e nariz enfeitados com algodão, antes de completarem o ensino fundamental, ou terem direito a sua festa de 15 anos, ou, darem à mãe o orgulho de se formarem em uma Universidade Pública– não espera, terá que ser Faculdade Privada, afinal, as Universidades não tem espaço para o grupo que tem na pele a marca dos três Ps (pobre, preto e periférico)!
Agora, sinceramente, se o critério para que a execução e o extermínio sejam justificáveis e/ou pacificamente aceita, e aplaudida, pela maioria for o quão este indivíduo colabora para o avanço da sociedade como um todo, acredito que teremos que redirecionar este alvo, não concorda? Numa coisa concordamos: este que aperta o gatilho junto com a polícia não mora num barraco de madeirite, não está no final da feira pegando restos, muito menos numa penitenciaria (ou casas de reabilitação, como gostam os politicamente corretos) sendo torturado. Ele está atrás do balcão de mármore, de terno e gravata, assinando contratos com sua caneta de ouro, seguro dentro do seu condomínio de luxo que, muitas vezes, contrasta com a favela, quando não a desaloja. São essas diferenças que precisam aparecer, quer dizer, que precisam ser explicitadas, por mais óbvias que elas possam parecer, às vezes, o óbvio escapa da percepção.

 Portanto, lixoso é o meu (e o seu) preconceito. Minha (e sua) mania de achar que o mundo gira ao redor do meu umbigo. Minha (e sua) tendência de achar que sei muito sobre o que é bom ou ruim para o outro. Minha (e sua) maldita arrogância.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A complexidade do ser.

Consequência de uma aula sobre Parmênides. 




O ser é. Isso por si já revela-se óbvio. Como pode um "ser" não "ser"? Enigmático, talvez. 
O Ser deve ser - propriamente dito - algo complexo, pois apenas a imaginação do que é o ser já é a própria magnitude. Eu amo o ser na mesma proporção que o odeio. Tenho o ser como um amante, que me visita querendo sexo e me deixa presentes como pistas e pagamentos. Caso um dia eu for, jamais assumirei ter sido. E se a ilusão do ser, apossou-se de mim a ponto de cegar-me para o que é, verdadeiramente? Ou melhor, para o que não é. 
Prefiro o estar. Em qualquer contexto. Nada é. Tudo está. E um dia, poderá ser. Poderá. Complexo, inteiro e puro, como o "ser" é, ou talvez seja. A essência do ser deve ser o ser. Não enlouqueça, nem acompanhe o raciocínio. Apenas permita-se ser, o que és. E aceite estar nesta condição. Por que ela seria ruim se o ser, está em definição? É uma estrada longa que finda ilusóriamente no horizonte, um jogo de lego, é como reflexões sobre o ser. Talvez saibamos onde elas começam, mas jamais teriam fim. Isto é o ser. Apenas seja paciente como o ser, duvidoso como o estar e atento como o pensar. 
Liberte-se de sempre ser. Você não é. O ser é, não você. Flutue nesta brisa boa como quem levita sobre o surrealismo barato, que te joga no chão e rasga tua pele. Que te leva pro alto e depois pro lamurio do subsolo. Surrealismo fruto de uma noite de bebedeira, sem sexo e resumida em frustrações. Não meça a dor que virá, apenas a sinta. E a viva inteiramente. Não parcele a dor. Sinta-a no agora como se tivesse fim, ou pudesse em algum universo ser quitada... 
Que ironia, não? Talvez o ser seja apenas estar. Estou triste, mas não quero ser assim. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Parafraseando Kafka - I


Deite-se, Lari.


Sou sempre tão culpada por tudo, que agora comecei a entender o porque a culpa é minha.
Minha porque sempre espero. Fico esperando que a vida me surpreenda. Que as pessoas me surpreendam. Mais preocupante é quando eu canso de esperar e me levanto pra surpreender. Faço isso com muita frequência e talvez este seja o meu maior erro. Ter a certeza lá no fundo que pra alguma coisa eu sirvo. Preciso des-iludir. Aceitar minha morte e para de relutar inutilmente.

As vezes fico dentro do quarto bem comportada recebendo comida pelo buraco da porta, mas as vezes teimo em rastejar em direção aquela suposta gota de amor, que fica no fim do corredor me chamando. Sinto e cheiro dela.
Nunca consigo chegar perto, pois sempre algo me impede. Não tenho armas e nem forças pra entrar em combate. Só pensamentos. Até eles pararam de ser expostos, não me pergunte o por que.

Fudeu. Eu cansei, e quando eu canso eu sei que to fudida. Então vou ficar deitada, esperando com a certeza de que algo virá. Se essa gota não vir me curar e revigorar meu espírito, a morte virá. Então, neste caso, esperar não é inútil, pois uma das duas vai chegar.

E quando eu achei que seria vista, eles fecharam a porta do quarto e se mudaram pra bem longe, não sei se a gota ficou.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Preparação psicológica



É lindo ser equilibrado e preparado psicologicamente para as adversidades da vida, não é mesmo?



"TODO MUNDO TEM POTENCIAL PARA SER UM VENCEDOR"

Todos os dias ouvimos algo que - mesmo indiretamente - nos induz a sermos equilibrados e preparados psicologicamente. Porque ser assim é aparentemente "bonito" e "certo".
Minhas lágrimas certamente já foram ridicularizadas por aquele alguém que - tecnicamente - é sempre mais experiente e vivido que eu.
Minha sensibilidade certamente já foi motivo de uma chacota travestida em uma bronca que fez sentir-me uma criança de sete anos. Meu questionamento constante e focado sempre foi usado para alertar-me de o quanto sou carente de equilíbrio emocional e preciso urgentemente de um psicologo.

Que porra é essa agora? Todos querem lhe ensinar a ser elegante e fino ao tratar com indiferença o oprimido em qualquer esfera. Usando como arma o argumento patético de que:
"É ridículo ver você chorando apenas por ver uma família dormindo num colchão no chão, que falta de equilíbrio emocional garota!"
"Que engraçado!!! Ela esta com falta de ar por ter vistou um mendigo indigente procurando alimento no lixo! Devemos dar uma inalação a ela ou o telefone de um psiquiatra? HAHAHA"
"Olhem essa menina, começou a chorar apenas por que uma criança da idade do meu filho, veio lhe pedir dinheiro. Pobre menina, precisa se tratar"

Alguém pode esclarecer-me, o que é ser preparado psicologicamente? Eu sinceramente preciso de uma especificação. O que é ter equilíbrio emocional? De verdade, estou interessada.

Como sempre rebelde, vou dizer que: Se manter-me neutra quando vejo uma criança de 8 anos chorar porque nunca tinha visto desenho animado na vida, for demonstração de equilíbrio e preparo emocional, não estou interessada em ser assim.
Se conter o choro desesperador frente a uma pessoa que dorme na rua por longos anos, for demonstração de elegância e equilíbrio emocional, preciso também confessar outra coisa: Não estou interessada em ser assim.
Se, ignorar uma criança de 8 anos que pede cinco reais para consumir crack, for mais uma de suas demonstrações de preparação psicológica e equilíbrio emocional, tenho mais uma vez que revelar que não estou interessada em ser assim.
Caso, dar de ombros ao tomar ciência de que outra criança de 12 anos, pratica sexo com homens de 40 em troca de vísceras de boi para alimentar os irmãos menores, for prova de equilíbrio e preparo emocional, eu já não sei o que escrever.
Aliás, sei. Caso, tratar com indiferença uma criança que chega no hospital com as duas pernas quebradas pela própria mãe, for mais uma demonstração de "educação", equilíbrio emocional e preparo psicológico, neste caso.... Não. Eu ainda não estou interessada em ser assim.
Caso, ser inexpressiva ao presenciar a cabeça de um jovem jorrando sangue até sua morte, pelo simples fato dele não possuir notas de papel verde no bolso, for mais uma demonstração de equilíbrio e preparação psicológica, não estou interessada em ser assim, definitivamente.

Se, a imparcialidade for a característica mais válida de um ser humano, infelizmente ou não, confesso que não sou possuidora dela e não estou interessada em ser.

Vocês querem me tornar num robô. Daqueles insensíveis que agem mecanicamente. Mas que principalmente seja aquele que nunca lhe deixe faltar a porra do equilíbrio emocional necessário para tornar o outro ser humano invisível. Preparo psicológico necessário para presentear com o dom da cegueira, usada para justificar o pisão na cabeça do morador de rua. "Ops não vi. Sou um cidadão normal equilibrado psicologicamente o suficiente, para não me preocupar com essas coisas".
Equilíbrio emocional e preparo psicológico é o caralho!



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Não se desculpe por dizer o que pensa.



Será que há necessidade de fazer isso?



Quando criança, tive que me desculpar várias e várias vezes por dizer o que penso, mesmo quando os outros se mostravam tecnicamente interessados em minha opinião. 
Davam-me um sapato branco com laços afeminados, e saltinho tóc-tóc, daqueles de meninas que frequentam a Igreja Cristã no Brasil - só faltava o véu - e ainda perguntavam-me se eu havia gostado. Responder a verdade era crime. Não porra. Eu não havia gostado... Ué!
Minha mãe passou a rezar ao andar comigo nos lugares, para que ninguém perguntasse minha opinião sobre nada, e se perguntassem, era que eu por em prática o "curso intensivo de bons modos" - com carga horária de uns 4 anos - e mentir com fineza. Foda. Sempre odiei fingir, logo nunca fui boa nisso. Ainda bem. (Ou não).
Sem prolongar essa narrativa sobre minha vida, até por que isso não muda em nada a tua, o negócio é que quando crescemos, podemos (podemos?) fazer algumas escolhas. Portanto, se você escolheu viver fingindo algo para satisfazer o outro, nem prossiga com a leitura. Mas se escolheu viver para você e ser o que você é, não o que o treinaram para ser, podemos ser amigos! =) Bem vindo ao clube amigão (ona)!
Quantas e quantas vezes comecei frases com "Desculpa falar, mas..."? Que idiota eu. Por quê diabos pedir desculpas por falar simplesmente o que penso? Talvez seja porque na maioria das vezes, decepcionei as pessoas ao não pronunciar - apesar de saber - exatamente o que elas queriam ouvir. Mas ainda assim, pensei, (Sim. Eu penso). posso eu estar falando a maior idiotice de minha escrota existência, quem será capaz de impedir que eu diga? 
Muitos foram e são capazes de condenar-me por dizer o que penso, mas mesmo assim não o deixo de fazer. As pessoas precisam saber respeitar a opinião alheia, o pensamento oposto, o outro lado da história. Não estou pedindo nem obrigando, ninguém a concordar comigo ou a abandonar seu pensamento para pensar como eu, apenas respeite. Pediu minha opinião? Terá! E não me venha com mimimi xurumelas, pois, até o Tio Sam sabe que não faço médias. 
Parar de dizer o que penso, suspender o que realmente sou, não colabora nem acelera o processo de entendimento das pessoas a cerca disso. 
Então por favor, por um mundo menos mentiroso e superficial, Não Se Desculpe Por Dizer o que Pensa. 






terça-feira, 9 de abril de 2013

Filha da Puta!



Faz uns três anos que estou de mau-humor, e mau consigo me recordar de como eu era antes deste períoro, ou desconfiar de uma possível origem. Na verdade tenho leves lembranças de vestígios de sorrisos, mas que não representavam necessariamente, felicidade. Eram só sorrisos mesmo. As vezes me veem á memória uns flash’s de minha vida naquela época, parecia menos torturante e lastimosa, mas sei que estou enganada, era tão deplorável quanto agora. Acho que o problema resume-se nesta maldita sede por explicações e respostas. Pra que isso? Já não basta ter nascido? Ter que viver atormentada e condenada a passar a vida inquieta atrás de explicações e respostas? Claro, claro! 

Talvez eu tinha a impressão de que era menos infeliz, porque há uns três anos não tinha consciencia da minha condição psíco-social. Existe uma parte de mim, que me condena por estar triste, e outra, que ama a dor. Essas partes brigam para dominar até meu tom de voz, mas notei que independente do resultado do jogo, nunca estarei como deveria estar. Desesperador ou reconfortante? 




Eu cometi suicídio e não entendo por que diabos ainda respiro... Já subtraí minha própria vida umas quatrocentos e trinta e sete vezes em três anos, mas ainda continuo em pé e “forte”. 
A vontade de morrer é característica do deprimido, mas a ausencia de coragem de abraçar a morte, também. Tão ilógico, mas real. Não escrevo para que o leitor entenda - ou se quer imagine - o que sinto, pedir isso seria como explicar as cores para um cego. Escrevo para reafirmar o quão sou filha da puta. Sim, filha da puta é a palavra, porque tem horas em que nada substitui um “Filha da Puta”!
Filha da puta que rodeia a própria dor com textos recheados de palavras bonitas e exageros, como se isso adiantasse… 

Dei proporcções execessivas ao meu realismo e ultrapassei as barreiras rumo ao pessimismo. Cobro das pessoas que não permitam que o imobilismo se apodere delas, mas, esqueço de minha imcompatibildade comportamental para este pedido. Idiota!

Pra não dizer que não falei das flores, são elas, as “ajudas” que recebo: 

“Ora, como pode você, achar que é um direito humano as horas mínimas de sono por noite, se daqui um tempo desenvolverás insônia?”
“Poxa, mas por que diabos reclamastes tanto, já que existem pessoas em situação muito pior que a tua?”



segunda-feira, 25 de março de 2013

Boooooooom Dia, teu cu.


Eu odeio simpatia matinal. 



O universo é conhecedor de que eu NÃO BEBO CAFÉ, ainda assim as pessoas que convivem há anos comigo me oferecem saporra pela manhã.
É mais fácil o Tio Sam saber que não bebo café do que o verme que me conhece ha anos. 
Qual é o problema das pessoas? Será que não percebem que são 8 horas da manhã de uma segunda-feira horrorosa, que me esfrega na cara o quão sou escrava de um sistema que repudio?
Qual é o problema das pessoas? Que acham que eu tenho sim que desejar bom dia com sorrisos largos no rosto?
Qual é o problema das pessoas? Que conseguem exterminar a gota de compressão que me sobrou, em segundos?
Qual é a porra do problema de estar exausta da vida? É proibido desejar que o mundo se foda?

 O problema não está nas pessoas, está em mim. A única adversidade é que os outros não me deixam viver meus problemas, eles invadem minha depressão com um repugnante bom dia, eles atropelam minha dor com um copo de café que fede a merda, eles me deixam com dor nas costas só de olhar em suas caras patéticas e estúpidas. Eles me fodem, todas as manhãs, em todos os sentidos. 

Ahhhhhh que merda, esqueci de desejar-lhe um Boooooooooom Dia com carinha feliz, como pude fazer isso? Como puder ser capaz de tal crueldade, selvageria? Ora, o que será de minha vida depois deste ato bruto? Alguém por favor, condene-me a fogueira por heresia em potencial? 

_)_ 

sexta-feira, 22 de março de 2013

E.T.




O consumismo aliena.
O comodismo corrói.
A carga horária escraviza.
O poderoso oprime.
O crachá acorrenta.
As férias incomodam.
E o dinheiro cega, cega pra caralho.

E eu? Não. Não sou deste mundo, apenas faço parte dele e repudio a mim mesmo por isso. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Essa conversa não é sobre você



Compatilhando um texto demolidor escrito em resposta aos manifestantes contra cotas.
Por Tamara Freire, uma jornalista branca. 

Essa conversa não é sobre você




Querido estudante branco, de classe média, que faz cursinho pré-vestibular particular: eu sei que é difícil quando alguém nos faz enxergar nossos próprios privilégios, mas deixa eu tentar mais uma vez.
Eu (e mais uma penca de gente, me arrisco a dizer) não me importo com o quão “difícil” será para você entrar naquele curso de medicina mega concorrido com o qual você sonha, porque, simplesmente, esta conversa não é sobre você.
Eu sei que praticamente todas as conversas deste mundo são sobre você e você está acostumado com isso, então deve ser um baque não ser o centro das atenções. Mas, seja forte! É verdade: nós não estamos falando sobre você.
Quando você chora pelo sonho que agora parece mais distante de se realizar, suas lágrimas não me comovem. Porque o que me comove são as lágrimas daqueles que nascem e crescem sem qualquer perspectiva para alimentar o mesmo sonho que você. É sobre essas pessoas que estamos falando e não sobre você.
Quando você esperneia pelos mil reais gastos todos os meses com a mensalidade do seu cursinho e que agora se revelam “inúteis”, eu não me comovo. Porque o que me comove são as milhares de famílias inteiras que se sustentam durante um mês com metade da quantia gasta em uma dessas mensalidades. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você argumenta que, na verdade, seus pais só pagam seu cursinho porque trabalham muito ou porque você ganhou um desconto pelas boas notas que tira, eu não me comovo. Porque o que me comove são as pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais, ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para os filhos, quem dirá uma mensalidade escolar por mais barata que seja. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
 Quando você muito benevolente até admite que alunos pobres tenham alguma vantagem, mas acredita ser racismo conceder cotas para negros ou outros grupos étnicos eusa até os dois negros que você conhecem que conseguiram entrar numa universidade pública sem as cotas, como exemplo de que a questão é puramente econômica e não racial, eu não me comovo. Na verdade, eu sinto uma leve vontade de desistir da raça humana, eu confesso, mas só para manter o estilo do texto eu preciso dizer que o que me comove é olhar para o restante da sala de aula onde esses dois negros que você citou estudam e ver que os outros 48 alunos são brancos. E olhar para as estatísticas que mostram a composição étnica da população brasileira e contatar a abissal diferença dos números. É sobre os negros que não estão nas universidades que estamos falando, não sobre você ou seus amigos.
Se a coisa está tão ruim, que tal propormos uma coisa: troque de lugar com algum aluno de escola pública. Já que não é possível trocar a cor da sua pele, pague, pelo menos, a mensalidade para que ele estude na sua escola e se mude para a dele. Ou, seja a cobaia da sua própria teoria. Já que você acredita que a única ação que deveria ser proposta é melhorar a educação básica: peça para o seu pai investir o dinheiro dele em alguma escola, entre nela gratuitamente junto com alguns outros alunos, estude nela durante 12 anos e então volte a tentar o vestibular. Ah, você não pode esperar tanto tempo? Então, porque os negros e pobres podem esperar até mais, já que todos sabemos que o problema da má qualidade da educação básica no Brasil não é algo que pode ser resolvido de ontem pra hoje?
Então, por favor, reconheça o seu privilégio branco e classe média e tire ele do caminho, porque essa conversa não é sobre você. Já existem espaços demais no mundo que têm a sua figura como estrela principal, já passou da hora de mais alguém nesse mundo brilhar.