quarta-feira, 20 de maio de 2015

Só abaixo minha minhas armas e deixo o combate, com 90 das vagas das faculdades!


é triste ter que destacar que EU NÃO ESTOU "CONTANDO VANTAGEM" (como dizem os zé porva). 


De todas as minhas 14 (quatorze) primas, apenas 3 (três) tiveram acesso ao ensino superior e detalhe: particular. E não estamos falando de custear uma mensalidade na PUC ou no Mackenzie, mas na Uninove e na Anhanguera mesmo... E também não estamos falando de cursos como Medicina ou Curadoria e Crítica, mas de Administração, Logística ou Marketing mesmo... Porque a inclusão educacional existe e funciona: Até a página cinco.


Há poucos anos atrás, ensino superior era exclusividade de patrício branco. Vagarosamente a cena muda, graças aos programas do governo federal: Malditos petralhas! Depois do PT, a filha da empregada – preta e pobre – divide a sala de aula com a filha da patroa – branca e rica. E será que existe desespero maior para a elite brasileira do que pobre tendo acesso ao conhecimento? 

Iniciei minha carreira acadêmica na FESPSP. Instituição privada, elitizada, racista e conservadora que é tradição no ensino de Sociologia e Política há mais de 80 anos. Sim, pasmem https://perspectivismos.wordpress.com/2013/08/28/a-insuficiencia-do-sistema-publico-de-ensino-e-seu-reflexo-na-academia/
Depois que fui expulsa por ser bolsista e polêmica, (pq não dá pra ser, pobre preta, bolsista e ainda querer ser polêmica) me dediquei a possível chance de estudar de graça. Fiz ENEM e pelo SISU entrei na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP (CHUPA ATEUS).
Entendo que isso pode não significar muito pra quem sempre estudou em colégio trilíngue, ou pra quem fez cursinho pré-vestibular custeado pelo pai com mensalidade equivalente a soma da renda dos três assalariados da minha família, eu entendo. MAS, pra quem passou a vida estudando em escola pública de quebrada que forma consumidores passíveis e não mentes pensantes, significa MUITO! Significa PRA CARALHO! 

Não se trata de uma vitória individual, mas coletiva. Vitória não apenas minha, mas dos meus. Vitória que começa a enegrecer o cenário. Vitória que contraria as estatísticas. Que me faz ser a primeira de muitas. E sinto um orgulho e uma responsa tremenda por estar ajudando a construir os primeiros degraus de subida numa escada que finda no início do progresso da juventude negra e periférica. Início porque sou exceção, mas, estou fazendo história e contribuindo para mudar a história. E isso não é exagero! Sei que existem jovens que aos 22 anos já são “alguém na vida”. 
Bem como, tenho amigas de 22 anos que não sabem LER. 
Algumas internadas em clínica de reabilitação porque o pó as dominou. 
Outras em casa com seus três filhos apanhando do marido. 
Outros na cadeia.
E ainda os que aguardam a cadeia como possibilidade mais positiva, pois, aos 15 trabalham de campana da loja da vila e nem por milagre chegarão aos 22 com vida!
Foram essas pessoas que cresceram comigo, e são essas pessoas que eu conheço. Mas, não é com essas pessoas que vou estudar. Então, vamos mesmo discutir essa pressão do tempo que o sistema exerce sobre nossas vidas, para que sejamos “alguém” logo? De preferência antes dos 30? Vamos mesmo questionar o tamanho da minha vitória? É, acho que não, mesmo.

Passei na Federal, sim. Mas sou uma exceção! E não vou aguentar que se apoiem em mim para tratar da regra. Continuo sendo exceção e não vou tolerar aquele papo meritocrático bizarro! Porque não! Não basta querer. Não basta se esforçar. Não basta ignorar as circunstancias que me cercam. Se bastasse, eu não seria exceção, mas regra. Se bastasse, eu não estudaria com a filha da patroa, mas com minha amiga de infância. Se bastasse, não haveria necessidade de cotas raciais e cotas para provenientes do ensino público. Se bastasse, as universidades não seriam tão esbranquiçadas e elitizadas. 

Passei na Federa sim! Ma, não dá pra viver em paz, enquanto eu estudo, trabalho, alimento perspectivas de sonhos e um irmão meu, não. Uma irmã minha, não. Não dá pra viver em paz, enquanto eu abasteço a prateleira com meus sonhos, para que aqueles com dinheiro os comprem. Não dá pra viver em paz, enquanto eu pego o ônibus pra ir "ser alguém" e deixo os meus no relento com a certeza de que "serão ninguém". 
Não dá pra viver em paz, porque eu sou exceção. Sou pobre, preta, periférica, mulher e acima de tudo, sou uma jovem que não se resignará perante a imundice do nosso tempo. Eu troco minha paz, pela luta! E creio que um dia valerá a pena, mesmo que eu não esteja viva para ver, valerá a pena!

Sigam-me os bons! 

2 comentários:

  1. Oportunidades, todos recebem as suas, mas as que mais dão frutos, são as que nós mesmos criamos e vamos atrás.
    As vezes não é questão de escolha, mas de ver além do que é oferecido, proposto, imposto e o preço de aceitá-las.
    Tudo é armadilha e muitos caem, e ainda ouço que não há motivo para ser depressivo, ao ver os nossos, independente de cor, e condição social, caindo inocentes na garra do inimigo....é triste pra caralho!
    "Se a história é nossa, então deixa que nóis escreve!"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse papinho meritocratico não cola, ouvi tanto isso de que 'todos tem oportunidade' que vou ate dedicar um post pra esta questão em especial. Criamos nossas próprias oportunidades ONDE? Dentro da nossa cabeça só se for. Existe um mundo pronto, em pleno funcionamento que nos antecede, e ainda tem gente que acredita nessa de 'faça seu próprio destino'.

      Alguns não conseguem 'ver além' pois tiveram sua ótica deturpada, quando não amputada.

      O sistema é violento e deshumano, uma gotinha de sensibilidade e já se pode notar... Ce ta ligado...

      Excluir