sexta-feira, 17 de abril de 2015

Mulher preta borbulhando

E a guerrinha entre o roots e a borbulhação só cresce. Se apoiando no pilar frágil de um conservadorismo patriarcal, a galera deu pra ridicularizar uma vertente da música jamaicana: Dancehall. Mas, vamos sair do raso e ir pro fundo, já que é preciso se aprofundar - pra não se afundar? Então vamo!


O problema com a borbulhação é puramente machista. O ragga é o funk jamaicano, e todo aquele discurso que prega a luta contra a “falta de originalidade”, é misógino. Vou explicar: O reggae está diretamente ligado ao cristianismo negro (Filosofia Rastafari), que por sinal não deixa de ser machista por ser empoderado na questão racial. Jesus é negro e “todos nós” sabemos... Mas, os dogmas machistas continuam inabaláveis. Mulher rebolando a bunda ainda incomoda muita gente. Mulher PRETA rebolando a bunda, nem se fala. “Pq mulher presta pra lavar a louça, não rebolar a bunda no baile”, não foi isso que a bíblia nos ensinou? De rasta macho os baile tá cheio, mas pera amiguinho: Na quebrada não é todo mundo que ganhou computador com internet aos 15 anos que possibilitou a busca no google pela profecia de Marcus Garvey e te incentivou a tricotar o cabelo...  O país é cristão. Você é “rasta” mas sua mãe é crente, no mais católica. Então pare de achar que o mundo de paz, amor e ganja chega pra todo mundo. O primeiro passo pra aprender a respeitar as pessoas, é compreender que elas não viveram – nem vão viver (graças a Jah) – as mesmas coisas que você. 



Porque é muito foda como mulher PRETA chegar num baile onde toca musica PRETA, e não poder rebolar a bunda, sem que na sua cabeça isso seja interpretado como convite pra sexo selvagem. Afinal, com a mulher preta se trepa, amor ceis fais com as branca. Muito foda ser lida numa manifestação de resistência DO POVO PRETO, (baile de sound system, cultura de rua jamaicana) como a “mina que não é pra casar pq tá rebolando”. Porra, cadê as frases de efeito do Bob Marley que ficavam no rodapé do caderno na oitava série? 



Outra coisa: garota jah bless do insta não me representa! Mina branca morando na Granja Viana que tricotou o cabelo aos 16 pq nunca vai precisar de um emprego, e se descobriu feminista aos 17, não vai falar por mim!  Você sofre machismo também, mas existe uma abissal diferença no privilegio de estar dentro de um estereotipo socialmente aceito e bem quisto. Então, enquanto eu for preta e pobre, pode deixar que por mim falo eu.





A quebrada tá cheia de preta rebolando a bunda nos funk, e o feminismo chega lá em forma de tapa. Elas sabem o que é machismo muito antes de você ter lido sobre a Frida Kahlo. E antes de culpar a “putaria” lembre-se de cada gozada maravilhosa que vc teve e que – muitas vezes – só foi possível graças a mesma preta que você chega hostilizando nos baile como se fossemos um hambúrguer no deserto. 



Emancipem-se da escravidão mental, lembra dessa? Aprendam mais um pouco com a própria filosofia. Somos mulheres, somos pessoas e não pedaços de carne. 

Vai ter preta rebolando a bunda nos baile sim! E se reclamar compro aqueles broches do Imperador da Etiópia na porta do CCPC e pago de “dançarina rasta”, pq nóis é ruim de verdade...rs


Poukas! 


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