quinta-feira, 14 de março de 2013

Este é meu dia.


Hoje estou mais próxima da morte do que ontem. Tão óbvio, tão inimaginável e insólito…





Talvez os proletários da sociedade - não só - atual, possam compreender a essência do sentimentos dos escravos em qualquer época. 
Hoje cheguei as 13:00hs no trabalho, e logo meu dono, ops, chefe, veio me interrogar sobre o motivo pelo qual eu estava 5 horas atrasada. 

Não sei. Não existe justificativa. Eu só quis dormir, eu só quis prolongar por algumas horas a minha inconsciência. Eu poderia dizer qualquer coisa, mas nenhuma morte na família anularia minhas devidas satisfações a ele, meu sinhô. Ops de novo, chefe. 

Não queria ter a consciência de que minha condição de trabalhadora é deplorável, e irrevogavelmente lastimosa. Talvez, se me faltasse essa consciência, minha dor seria menor. Olhe pro colega ao lado, ele chega no horário, sai tarde, não reclama, ele até gosta. Gosta tanto que se perder, sentirá falta. 

Registrar ponto, horário de entrada, almoço e saída. Tudo controlado, acesso a internet, tempo livre, mijar, cagar, beber água, tudo. 
Trabalhar pra enriquecer o outro, e ser tratada de uma maneira desonrosa. 

Entro no trabalho antes do Sol nascer e encerro quando ele já se foi, passo 10 - ou mais – horas do dia trabalhando para sobreviver. 
Será mesmo que é para “sobreviver”? Ou para sustentar um nível de consumo ditado pelo capitalismo? Consumimos desenfreadamente como se isso diminuísse a nossa pobreza existencial. (risos) 
Perco minha vida, com o objetivo de “ganhá-la”, paradoxo hilário. 
Eu trabalho num emprego que odeio, para comprar coisas que não preciso, para impressionar pessoas que nem conheço. Passo mais tempo com desconhecidos do que com minha própria família. Para alguns isso seja lucrativo, hoje para mim não é. 

Este é meu dia, esta é minha vida, e ela acaba um minuto de cada vez. 



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