sexta-feira, 20 de março de 2015

Raridade


Concordo que chegamos na época em que a falta de gente de verdade, nos deixa desacreditados da existência do bem. Gente de verdade. Sim, gente honesta, confiável, aquela pessoa que emana energia boa, pessoa que você quer estar perto.
Nos tornamos tão frios a ponto de desconfiarmos da gentileza, atribuir qualquer atitude boa, à interesse e pretensão por troca. Elogios se tornam críticas sarcásticas, quando são apenas elogios. Olhares são interpretados como aval para sexo casual, quando na verdade, são apenas olhares, porra! Eu acredito que haja gente bonita – e isso foge da definição construída socialmente que tende a ser padronizada – que mereça mais de 10 segundos de admiração... E nem por isso estou “querendo te dar”.

O egoísmo. Ego-ísmo. “ismo” no final de qualquer palavra me assusta, no final de “ego” então, me deixa triste. Por que essa dificuldade em assumir ou adquirir sensibilidade? Valorizar a vida, o momento, as pessoas? Ser uma pessoa real que não passa vontade de dizer algo, pelo simples fato deste algo não ser bem aceito ou interpretado... Viver é correr riscos, me lembra um poema de Sênega. (copiar link). Coragem é uma palavra que deriva de coração. Ter coragem nada mais é que agir com seu coração. Parece simples, mas poucos tem. Principalmente pelo fato de restarem poucas pessoas no mundo, que realmente o fazem. Agir com o coração! Não deveria nos ser tão assustador, já que nos soa tão libertador... Por que? 

O mundo nunca foi um lugar propício às pessoas sensíveis e problemáticas como eu, mas o fato é que o tempo torna isso pior. E faz parecer que hoje em dia o mundo se torna a cada segundo um lugar muito menos propício – se não já for. Tudo é tragédia. Ligue a TV. É tudo tão bizarro, mas por naturalizarmos a bizarrice do nosso tempo, não notamos... Leia jornal, te desafio a encontrar notícias que possam ser classificadas como positivas e úteis à você, enquanto pessoa mesmo. Não são úteis se quer à nível de conhecimento. Nada do que nos cerca agrega valor ao camarote da nossa existência. Nossa evolução nos traz para o abismo e não vemos, ou fingimos que não vemos, porque nos é confortável não ver. 
Conformismo corrosivo. O sistema nos estagna dentro de nossas próprias ideologias. Como pode? De todos os lados somos bombardeados a todo tempo com noticias ruins. Desde sobre o quão difícil anda a vida daquele familiar distante, até sobre a morte de milhões de pessoas mundo a fora. Destruição de famílias – e não falo daquele modelo conservador judaico-cristão – mas de laço. Sim, laços! Pessoas! Precisamos um do outro, sim! E como chegamos ao ponto de nos envergonhar por isso? Estamos no limite da lucidez. Crianças depressivas. Crack. Doenças emocionais, físicas. Fome. Animais em extinção, desmatamento, crise da água. Babilônia. 

São Paulo explicita nossas chagas nitidamente. Experimente o centrão. Experimente a quebrada. Faça seu teste. Reserve um dia para olhar pras pessoas com olhos piedosos, saia do mecânico. Saia aquele modo automático de enxergar o outro como adversário – ou pior – se quer conseguir enxergá-lo. Olhe para as pessoas como gostaria de ser visto! Como pessoa. Que vive, sente, ama, odeia, chora, ri, se desespera. Oportunidade pra isso não nos falta. Metrô, ônibus, trem, trânsito. Todos no mesmo barco, se encarando com raiva as sete da manhã! Somos treinados a agir de uma maneira que faz mal a nos mesmos, como pessoas. E como podemos nos resignar? Matamos nossas almas afogadas no nosso mar de conformismo, nos apoiando naquela clássica afirmação aparentemente aliviante:  “A VIDA É ASSIM”. 

NÃO, porra! A vida nos foi dada há quantos bilhões de anos? Já esta acontecendo, não dá nem tempo de descobrir o responsável por isso - seja pra culpar ou agradecer, não dá mais tempo. Efêmera e breve. Sem sentido e linda. Nossa e não deles! A vida tai. É algo muito único para que nós a percamos dessa maneira pobre. Estamos cegos e tá rolando tiroteio no planeta. A época é cruel. Os tempos são difíceis e não é papinho bíblico com sonoplastia comovente, é REAL. Não precisa ser religiosa pra notar, mas apenas sensível. 15 anos de idade. 2 de FEBEM. 1 filho e 1 homicídio. 15 anos de idade. 2 de intercambio. 9 de inglês e zilhões de possibilidades. Tem algo errado aí? Tem algo errado e sistema transfere a culpa pra você, enquanto você acorda cedo pra trabalhar e dorme tarde pra assistir BBB. É quentinho. A ignorância é aconchegante como um sofá, mas não calorosa como um abraço. Tá errado. Não está certo! Para que o mau triunfe, os bons precisam apenas calar-se... Nos tornamos materialistas a ponto de traficar órgãos... Ou a ponto de negar abraço. Materialistas a ponto de nos aproximarmos de tudo que é material, enquanto nos afastamos de nós mesmos. Nos apegamos a matéria de tal modo que parece que a vida se resume nela. Consumimos desenfreadamente. Fazemos planos com prazo como se nosso tempo fosse acabar. Não temos paciência nem com nossos filhos. Corremos o tempo todo, sempre com pressa.   

Somos mais que isso, note a energia que te cerca e sobretudo, a energia que de ti, flui. Emanamos energia, somos espírito. Não somos humanos vivendo experiências espirituais esporádicas aos domingos na igreja. Pelo contrário. Aquela sensação inexplicável que te invade a carne quando está em conexão com Deus, não acaba ali. Não é esporádica nem momentânea. Somos espíritos! É permanente, constante. Quando você sai de qualquer templo religioso, seu espírito não fica lá. Somos espíritos e não estamos espírito. Perceba a diferença entre ser e estar. Somos seres espirituais contemplados com a experiência humana. Deus existe, sim! Pode ler a caralhada de livros que for, e ter acesso ao conhecimento mais inquestionável e racional já produzido pela mente humana – que inclusive, é inacreditavelmente poderosa – não supre pobreza espiritual. A razão existe, sim! Mas não somos razão em plenitude. Quantas pessoas já existiram na Terra? E quantas delas foram lembradas? Acorda! Se cobre mais, viva mais, ore. Leve sua mente até seu coração, chore! Tome um café consigo mesmo, troca uma ideia, se conheça, conheça seu corpo, teste seus limites. Ouse em ser alguém melhor a cada dia. E mesmo quando isso te render constrangimento – porque vai – entenda como confirmação de que o caminho é esse! A batalha se torna árdua quando o alvo a ser mudado é seu interior, mas não se intimide, pois, o que mais vai ter é gente perdida, achando que sabe a direção...

A necessidade de sentir-se útil para alguém, me entorpece a ponto de exaltar minha insuficiência. Então serei útil a mim. Aos meus. E a todos que eu conseguir alcançar, seja com meu melhor, ou meu pior. Seja com um texto sem sentido publicado em blog, seja com um abraço que não te deixa cair no chão. Todos temos fome, se não de feijão, de amor... 

Desabafar sobre nossa tragédia? Sim!
Mas perder a esperança e me curvar? jamais! 

Que nosso grito de socorro, apesar de baixo e impotente, deixe um eco forte o bastante para transcender o tempo. Que os jovens do futuro possam ao menos saber que estivemos por aqui. Pessoas reais e sensíveis existiram! O amor ainda existe, permita-se enxergar. Faça força se for preciso. Seja mais do que o treinaram pra ser. Apresente defeito de fabricação. Faça mais do que existir. VIVA! e deixe rastros para que o próximo louco os siga. Faça da sua existência, um manual que gostaria de ter tido – e teve. (linkar grandes personalidades) Deixe sua marca, escreva sua história, detalhe sua luta, exalte sua dor, mas nunca, em hipótese alguma, faça isso ser desimportante. E em hipótese alguma perca a fé no bem existente em cada ser. 

A tarefa é pros fortes, eu sei. Também não me sinto pronta, mas to aqui tentando fazer matrícula no curso, Jah guia!

 

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