quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

demasiada

Relatos de uma jovem louca é o nome desse blog, e não á toa:

Horário de verão dá oito da noite tá claro, e eu moro na roça. Sol Nascente tem trilha, lagoa e passa boiada na rua de goma. Dá pra imaginar a estradinha que até pouco tempo era de terra, com mato dos dois lados.

To eu vindo a pé pela beira do mato pq não existe calçada pq não existe pedestre --',
sozinha, 
com roupa de calor pq né, 
vários carro tirando fina e buzinando,

avisto um bico aparentemente loco, pelo andar desgovernado e umas parada repentina e suspeita.
eu não tenho medo. mas o silêncio ensurdecedor da mata, somado ao escuro que timidamente chegava, me fez enxergar o contexto:

"a minha mente vai a mil, eu começo a viajar... ♪"

meu diálogo mental comigo me dizia:
"Oi linda, não é você que diz não ser saudável suspeitar de todo homem? calma. 
e tá suave lari, ele não vai pá na sua,
e SE ele pá, tem vários carro passando...
Ninguém vai ignorar um suposto ataque de um homem à uma mulher, de noite, numa estradinha perigosa..." 
(repeti isso a mim mesma pra não chapa no medo)

Daí lembrei do ambulante (homem) sendo assassinado no metrô (espaço público central), enquanto vários bico passa e sim, IGNORA.

a despreocupação que sempre me acompanha dá lugar ao medo, a consciência fere e exalta minha fragilidade, incapacidade. minha emoção despenca da alegria ao desespero em segundos pelo simples fato de ter um cara se aproximando. Que talvez nem tinha me ganhado...

ele disse algumas grosas que nem ouvi devido a concentração doentia em acelerar os passos. Não fez nada e eu to suave.

quer dizer, to pensando aqui sobre o absurdo que reside na banalidade da rotina de qualquer mina. to com raiva pq parece que pra ser triste tem que acontecer algo. 
pra fazer uma analogia que homem entenda: talvez o sentimento que mais se aproxima disso, é ser preto e nessas condição avistar uma vt. 
Mas ser mulher é carregar outras certezas, outras neurose.

só esperando o questionamento dos bico em relação ao que realmente IMPORTA nesse relato ~dramático~ e ~exagerado~ sobre um fato ~irrelevante~: o que você estava fazendo a pé na chica luiza, de noite, sozinha, com roupa de calor?

- não interessa, o mundo é mó lixo.

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