Apropriação é quando todo mundo pode usar algo que define a sua identidade sem sofrer criticas ou represálias e você não. (Aline Djokic)
Porque branca de turbante é “close”, mas preta de turbante é “macumbeira”. Porque patrício branquinho de condomínio fazendo “RAP” é cultura de rua, mas preto favelado fazendo RAP é bandido. Porque preta dançando funk quer “aparecer” quer “dar”, e branca dançando é arte contemporânea. Até quando?
dispenso legendas
Vi muitas polêmicas envolvendo o fato de brancas usarem turbantes. Muita discussão e muita picuinha. Porém, creio que seja extremamente importante que – apesar do ódio, da dor e da revolta que dá – as pretas consigam se fazer entender. E pra que nos entendam, não podemos atacar. Que militância é essa que sai ferindo os ignorantes? Que tipo de sociedade você luta pra construir? Quando digo que não devemos atacar, insisto que devemos ser didáticas. Se você quer que uma criança entenda algo, não vai ajudar muito xinga-la de burra. Com as brancas funciona da mesma maneira. kk (Essa analogia não deveria parecer ofensiva, não me refiro as brancas como crianças, mas como pessoas que por vezes NÃO COMPREENDEM a luta do povo preto e suas parti ) Sejamos didáticas. Por um mundo onde quem não tem acesso ao conhecimento, possa ter. Sejamos didáticas para que nossa luta não seja tão mal interpretada como esta sendo. Sejamos didáticas para que nos entendam e respeite. Sejamos didáticas porque ninguém nasceu sabendo. Sejamos didáticas pois, antes de termos acesso a internet, a maioria era coxinha e nem sabia...
Sei que existem pretas que defendem o empoderamento só das pretas, mas eu não sou uma delas, então, vou tentar explicar:
Muitas brancas dirão que o turbante é utilizado em muitos países além dos países africanos, mas no Brasil a utilização de turbantes tem influência da cultura africana. Ponto. Quando as brancas utilizam turbantes com estampas africanas comprados na mão dos Senegalenses e Angolanos na praça da república em dia de sábado, elas não o fazem para remeter a outra cultura que não a Africana. E isso é um elemento que define identidade.
Logo, quando uma preta se levanta pra apontar casos de APROPRIAÇÃO DA CULTURA NEGRA - como a utilização de turbantes - não estamos esperando que vocês brancas, parem de usar turbantes ou coisa do tipo, a luta vai muito além desses perrequinhos e existem pautas muito mais emergentes do que o sonho utópico e risível das branca querendo ser preta ~~porque agora é tendência~~. Mas, ao manifestarmos nosso repúdio à apropriação, esperamos que apesar de gostarem, se identificarem ou se comoverem com a NOSSA luta, reconheçam que ela NÃO É SUA, e nos respeite. Quando criticamos a apropriação indevida dos símbolos culturais de uma determinada etnia, estamos defendendo a preservação de elementos que definem nossa identidade. O uso do turbante tem vários significados além da estética. Pra nós, mulheres negras herdeiras da cultura afro, turbante é o símbolo da nossa história, a valorização da nossa beleza (que é negada e invisibilizada), é o resgate da nossa ancestralidade e principalmente a valorização da nossa cultura. Portanto, turbante é mais do que estética, beleza, tendência ou moda. É o reconhecimento cultural e histórico do negro no Brasil. E é só isso que vocês precisam saber. Quer usar turbante? Use amada, mas SAIBA o que isso significa e a quem remete.
Homenagear meus antepassados usando turbante todo mundo quer, mas e ser pregada num tronco e receber chibatadas por horas? Ou ser estuprada por português colonizador? Ter seu corpo coisificado e hiper sexualizado? Sofrer racismo, que tal?
Não gosto de escrever atacando, mas é muito revoltante. Eu passei a vida toda com meu cabelo sendo “ruim”, “zuado”, “digno de alisamento”, pra assistir a estética negra virar tendência? Moda? Porque hoje em dia ser pretx é lindo, estiloso, cool? Poupem-me.
E aquele discursinho de que “RAP é pra todos”, “RAP é liberdade de expressão e todos tem o direito de se expressarem”? Vish, eu repudio e explico o porque: Esse discurso é da família daqueles outros, “oportunidade é pra todos” “universidade é pra todos” e blá blá blá meritocracia meucu. O discurso de que todo mundo pode é lindo, quase me convence, se não fosse pelo fato dele atropelar e se apropriar da luta e da história de quem a vive. Esse lance de internacionalizar a cultura negra é uma armadilha do sistema branco pra descaracterizar a cultura a ponto de degradação. Esbranquiçar a sociedade. Branco pode fazer RAP? claro que pode. Mas coloque-se no seu lugar. Não foi isso que sempre fomos obrigados a ouvir de vocês? “coloque-se no seu lugar”? Então por que ouvir o mesmo de nós, lhe soa estranho? Oras. Reconheça que você ta fazendo musica de pretx, de resistência do povo preto, respeite as raízes e as origens do bang, e antes de pensar nos flow, tenha algo a dizer...
“Não precisa ser preto para lutar contra o racismo”. Claro que não precisa.
Da mesma maneira que não preciso ser lésbica para lutar contra a homofobia: Basta reconhecer meus privilégios enquanto heterossexual, e saber que por isso não sofro homofobia, e portanto, quando uma lésbica for falar sobre o preconceito que ELA sofre por isso: EU TENHO QUE CALAR A MINHA BOCA E OUVIR ao invés de se apropriar de uma luta que não é minha e tentar roubar local de fala e protagonismo nos espaços. E nem pensar em dizer: “mas eu tenho um amigo gay”.
Sigam a lógica, reconheçam seus privilégios enquanto brancxs e somem na luta de uma maneira bem simples: calando a boca.
O lance é que eu enquanto mulher preta e periférica que ouve RAP – e isso não inclui raicas – desde os 12, jamais vou me omitir ao ver o preto perdendo o protagonismo num movimento que até ~ser preto virar tendencia~ era de “bandido”. E perdendo o protagonismo pra branco!!!!!! PQP.
Mais respeito significa concomitantemente preservação dos dente, e a militância não deveria ser uma competição para saber quem é mais oprimido!
#ficadica
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